terça-feira, 23 de outubro de 2012

Trevas Maravilhosas

Título: Trevas Maravilhosas
Autor: Kami Garcia
Margaret Stohl
Edição: Gailivro
Colecção: 1001 Mundos
Nº de páginas: 488

"Ethan Wate costumava pensar em Gatlin, a vila sulista a que sempre chamara casa, como um sítio onde nunca nada mudava. Foi então que conheceu Lena Duchannes, uma misteriosa recém-chegada que lhe revelou um mundo secreto, que sempre estivera oculto à vista de todos. Uma Gatlin que albergava segredos ancestrais por detrás dos seus carvalhos cobertos de musgo e dos passeios gretados. Uma Gatlin onde, há gerações, uma maldição tinha marcado a família de Lena, repleta de poderosos poderes sobrenaturais. Uma Gatlin onde acontecem situações impossíveis, mágicas e capazes de mudar o rumo de uma vida. E, por vezes, capazes de lhe pôr termo.Juntos conseguem fazer face a tudo o que Gatlin lhes apresenta mas, depois de sofrer uma perda trágica, Lena começa a retrair-se, guardando segredos que põem a relação dos dois à prova. E, agora que os olhos de Ethan foram abertos para o lado mais obscuro de Gatlin, não há volta a dar. Assombrado por estranhas visões que só ele tem, Ethan é ainda mais atraído para a história rocambolesca da sua vila e vê-se preso na perigosa rede de passagens subterrâneas que atravessam o Sul de um modo interminável, e onde nada é o que parece."


Depois de ter lido o primeiro volume desta série (Criaturas Maravilhosas) fiquei com alguma curiosidade quanto a este mas fui adiando a leitura. Não sei muito bem porquê mas havia sempre algum outro livro que me parecia mais interessante. A leitura acabou por surgir naturalmente, num sábado de chuva, e se por um lado até se revelou agradável, por outro tenho a sensação de que se as expectativas tivessem sido mais elevadas teria ficado bastante desiludida (ou não...). 

A acção principal continua a passar-se sempre em torno da relação de Ethan e Lena e das escolhas que ela tem que fazer por ser uma Encantadora. Se neste volume deixamos de lado o amor lamechas em que os dois adolescentes estão sempre juntos e coladinhos um ao outro, passamos à outra parte menos agradável dos namoros (principalmente dos namoros adolescentes) a distância que se pode criar entre os dois propositadamente. Após a morte de Macon, Lena sente-se culpada e  vai criando um fosso entre si e Ethan. Vai colocando o namorado cada vez mais de parte e, apesar de todos os esforços do rapaz, não há nada que a  afaste de pessoas menos recomendáveis. Entretanto, Lena continua a ter que fazer uma escolha entre as Trevas e a Luz. Influenciada por diversos aspectos exteriores, a jovem aproxima-se cada vez mais das Trevas e é neste ponto que a estória começa a aquecer e uma louca demanda pelos Túneis tem início.

Contrariamente ao que é habitual, os pontos altos desta trama que é bastante previsível, continuam a ser aspectos que noutros livros seriam completamente secundários. E ainda bem que assim é, caso contrário a estória não passava de um namoro que, às vezes, dá para o torto.
As personagens mais ricas, mais surpreendentes e com as quais mais facilmente o leitor se e identifica continuam, sem sombra de dúvida, a ser os personagens secundários - Link, Liv, Amma, Macon e até as inusitadas tias-avós de Ethan que ajudam sempre trazendo-nos um colorido diferente e um toque de humor. Além destes, também os mais misteriosos são personagens secundários - John, Abraham e Ridley - são personagens que prometem muito pelo suspense e pela aura de mistério que as rodeia. Pode ser que num futuro volume as coisas mudem e todas estas figuras tenham um maior destaque.

Outro ponto muito positivo e que nunca deixa de me surpreender são os flashbacks de Ethan. Se por um lado o modo como eles acontecem chega a ser um pouco ridículo, por outro lado são das minhas partes preferidas da estória. É através deles que ficamos a saber mais sobre o passado dos vários intervenientes na trama, sobretudo no que aos personagens secundários (e que são os meus predilectos) diz respeito. Continuo a achar que no geral são momentos bem conseguidos e que sempre se revelam importantes para o desenrolar da trama.

Apesar destes pontos positivos e do facto de pensar que as autoras conseguem retratar muito bem todos os aspectos mais caricatos da vida numa cidade pequena onde todos se conhecem, penso que pecam pela falta de informação sobre o mundo dos Encantadores que continua patente neste volume. Também a previsibilidade da trama é um ponto a desfavor se o leitor não for um adolescente.

É uma leitura agradável para quem quiser algo leve que o acompanhe numa tarde chuvosa e de frio passada no sofá; uma boa leitura para o seu publico alvo.

4,5/10

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Robert Muchamore em Portugal esta semana


Autor da CHERUB visita escolas e apresenta novo livro no sábado.

Depois de ter estado na mais recente edição da Feira do Livro do Porto, onde autografou mais de 700 livros, o escritor inglês Robert Muchamore regressa esta semana a Portugal para apresentar República Popular, o primeiro livro da segunda série da coleção juvenil CHERUB.
Com 200 mil livros vendidos no nosso país (e 6,5 milhões em todo o mundo), a primeira série está a terminar – o último livro sai no início de 2013 –, mas a segunda estreia agora, com novo design, novos agentes, novas missões e a promessa de ainda mais ação.

Robert Muchamore chega hoje a Lisboa e, para além de visitar escolas (os livros da coleção têm sido muito elogiados por professores de português), vem assinalar o lançamento oficial de República Popular, no sábado, na FNAC do centro comercial Colombo, em Lisboa, às 17:00. Esperam-se centenas de jovens leitores.

O AUTOR E A CHERUB
Robert Muchamore nasceu a 26 de dezembro de 1972, em Islington, Inglaterra. Trabalhou durante treze anos como detetive privado, mas abandonou a profissão para se dedicar à escrita a tempo inteiro.
Costuma levar quatro a cinco meses a escrever um livro, sendo que dedica o primeiro à pesquisa e o segundo à planificação da história. Só depois escreve. Segundo o próprio, ao criar a coleção CHERUB tentou escrever aquilo que gostaria de ter lido aos 13 anos de idade.
A CHERUB é o braço juvenil dos serviços secretos britânicos (MI5). O grupo foi criado a partir do pressuposto de que nenhum criminoso desconfiaria de que crianças perfeitamente normais pudessem ser espiões. Porém, os membros da CHERUB, embora o pareçam, não são jovens normais, mas sim profissionais treinados com rigor – todos eles órfãos –, enviados para missões de espionagem contra terroristas e traficantes de droga temidos internacionalmente.



REPÚBLICA POPULAR - O novo livro
"Ryan é o mais recente recruta da CHERUB. Tem apenas 12 anos, acabou a recruta há oito meses e está ainda muito verde. Foi destacado para a sua primeira missão: tornar-se amigo de Ethan Aramov, um miúdo rico e mimado que vive na Califórnia e é neto da mulher que comanda, a partir do Quirguistão, um multimilionário império internacional de crime organizado. Ryan não imagina que a sua primeira missão se vai tornar numa das mais importantes da história da CHERUB..."


Podem consultar o site oficial da série (em Português) aqui

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Proua i Percunceito - Capítalo XII




"Apuis dun cumben antre las dues armanas, Elizabeth screbiu le a la mai a soutordie pula manhana, a pedir que le mandara la carruaije por todo esse die. Mas la Senhora Bennet, que habie calculado que las filhas se mantubíssen an Netherfield até la terça apuis, altura an fazerie ũa sumana de la chegada de Jane, nun le agradaba nada recebi las antes. Antoce, la repuosta nun fui mui faborable, al menos pa ls deseios de Elizabeth, que staba cun muita gana de bolber para casa. La Senhora Bennet mandou le rezon de que talbeç nun fusse possible mandar le la carruaije antes de terça; i an post scriptum staba acrecentado, que s’acauso l Senhor Bingley i l’armana le pedíssen muito para quedáren mais tiempo, eilha podie çpensá las mui bien. Assi i todo, quanto a quedar mais tiempo, Elizabeth staba resolbida sien dúbeda nanhue—nien asperaba muito que se lo pedíran; al alrobés, i cun miedo que las agarrássen por abusadoras por quedáren mais do que l tiempo preciso, eilha apertou cun Jane para que le pedisse lhougo la carruaije amprestada al Senhor Bingley, i al fin quedou assente antre eilhas que la sue tencion de deixar Netherfield aqueilha manhana seria apersentada, i l pedido feito.
L’ambora trouxo muitas manifestaçones de preacupaçon; i cun fuorça le pedírun que quedássen al menos mais un die, por bias de l mal de Jane; i até la purmanhana la salida deilhas quedou adiada. Mas la Menina Bingley arrependiu se de le haber perpuosto l adiamento, puis l ciúme i l’antipatie deilha por ũa de las armanas era mais grande que l’afeiçon pula outra.
L duonho de la casa oubiu mui peneroso que eilhas se íban deilhi a pouco, i por bárias bezes quijo cumbencir la Menina Bennet de que nun era seguro para eilha—puis inda nun staba sana de todo; mas Jane era firme adonde sentie que tenie rezon.
Pa l Senhor Darcy era un bun antendimiento—Elizabeth stubira an Netherfield tiempo que chegasse. Eilha atraie lo mais do que le gustaba—i la Menina Bingley era andelicada cun eilha, i andaba anriba del mais do que questumado. Resolbira tener un cuidado special pa que nun se le scapasse agora nanhue seinha d’admiraçon, nien nada que la podira animar cula sprança de anfluenciar la felcidade del; sabedor de que se ũa eideia dessas tubisse sido amostrada, la postura del ne l redadeiro die iba a ser material de peso para cunfirmar ou p ale sacar esso de la cabeça. Firme ne l perpósito del, quaije nun dixo ũa palabra an todo l die de sábado, i anque ũa de las bezes tubíran stado solos ũa meia hora, el mui naturalmente, agarrou l lhibro del, i nien sequiera para eilha mirou.
L demingo, apuis ls oufícios de la manhana, dou se la separaçon,  tan agradable para quaije todos. La delicadeza de la Menina Bingley cun Elizabeth creciu na fin mui debrebe, tanto cumo l’afeiçon deilha por Jane; i quando se çpedírun, apuis de le assegurar a la última de l prazer que siempre tenerie an star cun eilha, fura an Longbourn fura an Netherfield, i l’abraçar mui ternamente, eilha chegou le mesmo a apertar la mano a la purmeira. Elizabeth de todos se çpediu cun ũa buona çposiçon mais grande que nunca.
Eilhas nun fúrun mui bien recebidas an casa pula mai deilhas. La Senhora Bennet quedara mui admirada cula chegada deilhas, i dixo le que stában arradas an le dar tanto ancómodo, i staba cierta de que Jane se haberie custipado outra beç. Mas l pai, anque pouco falador nas sues manifestaçones de agrado, staba mesmo cuntento por las ber; el sentira l’amportança deilhas na famílha. La cumbersa a la belada, quando stában todos juntos, perdira muita de la sue animaçon, i quaijeque todo l sentido cula falta de Jane i Elizabeth.
Achórun a Mary, cumo questumado, anterrada ne l studo perfunfo de la natureza houmana; i apresentou le bários resumes que tenien que admirar, i oubir algues ouserbaçones feitas dũa moralidade dubidosa. Catherine i Lydia tenien amboras mui defrentes  pa le dar. Muito fura feito i muito se dezira ne l regimento zde la quarta atrasada; bários oufeciales habien cenado hai pouco tiempo cun l tiu deilhas, un suldado lhebara ũas çurriagadas, i corrira se que l Coronel Forster s’iba a casar."

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Prémio Nobel da Literatura atribuído a Mo Yan


O Prémio Nobel da Literatura 2012 foi atribuído ao escritor chinês Mo Yan. Como tudo o que sabia sobre este senhor, até ler o artigo do Público, era que o seu único livro editado em Portugal - Peito Grande, Ancas Largas - tinha a chancela da Babel, decidi deixar-vos aqui o dito artigo para que possam também ficar a saber algo mais.





Um dos mais celebrados escritores no seu país, embora não isento de polémica, Mo Yan faz habitar a sua obra de um humanismo compassivo, habitualmente centrado na ruralidade da localidade em que nasceu a 5 de Março de 1955, Gaomi, na província de Shandong. O escritor, que lançou o seu primeiro romance, Falling Rain On a Spring Night, em 1981, mereceu a mais nobre distinção do mundo da literatura por ser, segundo comunicado pelo comité do Nobel, um autor "cujo realismo alucinatório funde contos tradicionais, História e contemporaneidade". A sua escrita, como é aliás reconhecido pelo próprio, é grandemente influenciada por William Faulkner, Gabriel Garcia Marquez. 

A adaptação ao cinema de Milho Vermelho, em 1987, por Zhang Yimou e com a estrela Gong Li, filme determinante da chamada "Quinta Geração" que marcou uma nova era no cinema chinês, cimentou o seu estatuto na China e chamou a atenção do mundo. Traduções dos seus livros no Japão, França, Itália, Estados Unidos e Inglaterra cimentaram o seu estatuto internacional. Em Portugal, Mo Yan tem apenas um livro traduzido, Peito Grande, Ancas Largas, editado em 2007 pela Ulisseia. Publicada originalmente em 1995, a obra causou grande controvérsia na China devido ao teor sexual da história. Mo Yan foi obrigado a escrever uma autocrítica ao seu próprio livro, e, mais tarde, a retirá-lo de circulação. Esse episódio, aliado, por exemplo, à participação na cópia manuscrita de um discurso de Mao Zedong, em que este definia os parâmetros a seguir na arte e literatura chinesas, levou-o a ser considerado pelos opositores ao regime chinês como um autor alinhado, não independente. O pseudónimo Mo Yan, escolhido pelo homem nascido Guo Moye, significa em chinês "não fales". Dessa forma, ele que se diz sempre franco no seu discurso, lembrar-se-á constantemente de que não deve falar demasiado. Há outra leitura para o pseudónima, esta literária. Para Mo Yan, "um escritor deve enterrar os seus pensamentos e transmiti-los através dos personagens dos seus romances".

Em 2009, numa conferência na Feira do Livro de Frankfurt, respondeu às acusações de falta de independência perante o poder. "Um escritor deve exprimir crítica e indignação perante o lado negro da sociedade e a fealdade da natureza humana, mas não devemos recorrer a formas de expressão uniformes. Alguns poderão querer gritar nas ruas, mas devemos tolerar aqueles que se escondem nos seus quartos e usam a literatura para transmitir as suas opiniões".

Mo Yan abandonou os estudos muito jovem devido à turbulência causada pela Revolução Cultural e trabalhou numa quinta antes de, em 1973, se empregar como operário fabril. Alistou-se no Exército de Libertação do Povo Chinês (ELPC) três anos depois, iniciou-se na publicação em 1981 e, mais tarde, entre 1984 e 1986, estudou literatura na Academia das Artes do ELPC. Vencedor o ano passado do mais importante prémio literário chinês, o Mao Dun, Mo Yan é também vice-presidente da Associação de Escritores da China.

Entre a sua obra, onde se incluem dezenas de contos, destacam-se romances como The Garlic BalladsThe Republic of Wine, ou o supracitado Peito Grande, Ancas Largas. Segundo a Wikipedia, o seu penúltimo livroLife And Death Are Wearing Me Out, foi escrito em apenas 43 dias, inscrevendo os mais de 500 mil caracteres do manuscrito original em papel chinês tradicional e usando apenas tinta e pincel. O último, Frog, incide sobre os abortos forçados que resultam da política estatal de controlo de natalidade ("um casal, um filho"). 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Aqui e lá, ler é diferente...


Há uns tempos, por motivos pessoais, tive que deixar Lisboa onde estudei e trabalhei durante cerca de 9 anos. As mudanças foram, obviamente, mais que muitas. Aquela que mais me custou e que mais me fez mudar a perspectiva que tinha de certas coisas (que dava como certas, por sinal) está ligada aos livros e aos meus hábitos de leitura.

Em Lisboa, ia todos os dias (ou quase) depois do trabalho, ao Chiado e por ali ficava uma ou duas horas a vaguear pelas livrarias. Deitava um olho às novidades, “namorava” aqueles livros que queria e não podia comprar no momento, lia um ou dois capítulos daqueles livros sobre os quais tinha as minhas dúvidas. Esta é uma das grandes vantagens das livrarias da capital e dos outros grandes centros urbanos. A grande maioria delas dá ao leitor/cliente uma certa liberdade para folhear, sentir o cheiro do papel, ler um bocadinho sem sentir constantemente os olhos do livreiro nas costas. Aquele olhar inquisidor de “o que é que queres afinal?” “Vais levar alguma coisa ou vieste só de passeio?”.
Não digo que estes olhares não nos atinjam na grande cidade ou que quem vende nunca pense assim mas na cidade grande o volume de clientes e curiosos é imenso, há gente nas livrarias. Aqui… bem, aqui entro na pequena livraria de esquina e a senhora (que por sinal é muito simpática) vem logo toda solícita. Deixa-me espiolhar a mercadoria à minha vontade, afinal já me conhece. Contudo, sendo um espaço pequenino e aberto, ela está sempre lá; o olhar nas minhas costas que me imprime uma certa pressa por vergonha de “ficar a fazer sala”. O que me custa, claro está, não é o fazer sala é fazê-la nos dias em que acabo por não levar nada. O que leva ao segundo problema.

De início comecei por encomendar tudo na internet, de preferência no site das próprias editoras. Passado uns tempos comecei a aperceber-me de que aqui, como em todas as cidades pequenas, as pessoas queixam-se muito daquilo que falta mas não ajudam a desenvolver aquilo que há. Isto é, queixamo-nos que “não há uma livraria de jeito no raio de 120Km” mas depois acabamos por comprar tudo na internet ou na grande superfície local que até vende aqueles livros mais comerciais, sem contribuirmos em nada para que a senhora da livraria ganhe o seu dinheiro e possa começar a encomendar novas coisas. Decidi então começar a ir à livraria. Compro lá muita coisa. Mas também há muita coisa que não posso trazer por se tratar de um micro negócio que tem falta de liquidez e capacidade para aceitar as regras de algumas editoras. Foi assim que aprendi que algumas editoras mais conceituadas e conhecidas aceitam encomendas de poucos exemplares, outras por sua vez apenas aceitam encomendas de um número considerável de exemplares o que impede a livraria aqui da terra de ter alguns dos livros que eu gostaria de lá comprar. “Não posso encomendar o que eles querem porque depois fico com eles aqui por vender”, foi o que me explicou a livreira simpática. Pois é, tem razão!

Posto isto, continuo a fazer algumas das minhas compras pela net. Claro que o volume de livros comprados diminuiu muito com a crise mas para isso também não tenho grande solução por aqui. Se em Lisboa podia ir à biblioteca e trazer os livros  que queria, edições bastante recentes e quase acabadinhos de sair, aqui é uma missão quase impossível. A biblioteca dedica-se sobretudo ao espólio de antiguidades e só há cerca de um ano começou a adquirir livros mais recentes. Ora, o que acontece é que o leitor mais ávido com o bolso relativamente vazio acaba por ter uma certa dificuldade em deitar a mão às novidades. Quando chegam, trazem vários meses de atraso – volumes no caso das sagas e trilogias. Serei eu tão exigente? Será que os jovens não se dedicariam mais à leitura se a biblioteca estivesse bem apetrechada de livros actuais, de algumas (não era preciso todas, obviamente) novidades, de leitura que fosse mais de encontro aos temas que lhes agradam? Quem, numa cidade pequena do interior, vai conseguir fazer um trabalho de fundo que vise o fomentar da leitura senão a biblioteca? Claro que, pela minha parte, vou fazendo os possíveis para aliciar os jovens com quem tenho contacto. Empresto livros, dou sugestões, discutimos as leituras…  Sei que há por este país fora muito professor que tenta fazer o mesmo e que este trabalho, motivado pela paixão aos livros, até dá alguns frutos mas nunca vai ser suficiente se não houver um trabalho de fundo. E dá tanto gosto quando aquele rapaz que não lia duas linhas nos vem tocar à campainha para perguntar se temos outro livro para lhe emprestar; quando aquela miúda que adora ler mas que não pode comprar um livro que seja nos aborda para saber quais são as novidades na nossa estante…!!

Com tudo isto, aconteceram duas ou três coisas umas mais estranhas que outras. Por um lado, reduzi em muito o volume de livros adquiridos na internet – aproveito apenas aquelas promoções que dão muito jeito e os livros que sei que não encontro por estas bandas. Esse tipo de aquisição impessoal que não me deixa ver bem as cores da capa, sentir o cheiro do papel enquanto folheio o livro e escolho o que hei-de levar comigo para casa. Já não passo uma hora por dia no Chiado mas continuo a cultivar o hábito, adquirido aquando da mudança, de visitar a pequena livraria de esquina uma ou duas vezes por mês. Ganhei novos hábitos de consumo – confesso que já não sei comprar nada numa fnac ou numa grande livraria. São tantos livros, ali prontinhos a ler que nunca sei o que levar. É quase como ter muita fome e colocarem-nos à frente uma mesa repleta de comida, dúzias dos nossos pratos favoritos. Ficamos sem saber o que escolher.
Por outro lado, ganhei uma alergia muito pouco saudável à biblioteca cá do sitio. Mas ganhei uma mais saudável alegria. A de partilhar (sem ser aqui) o meu gosto pelos livros, a de tentar aliciar a malta nova e, por vezes, ser bem-sucedida. Foi uma mudança radical em certos aspectos da minha vida de leitora, consumista e não só. Mas foi uma mudança que me fez ver que também no mundo dos livros há duas realidades bem diferentes que marcam o nosso país e que temos que ser nós próprios, com os recursos que temos mais à mão, a fazer a diferença e a tentar conquistar novos leitores, novos livros nas livrarias de todas as esquinas e a fazer com que os livros e a magia que trazem às nossas vidas abram cada vez mais horizontes.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Proua i Percunceito - Capítalo XI


Quando las ties se lhebantórun apuis la cena, Elizabeth chubiu para an pie l’armana, i al ber que staba bien tapada pa l friu, acumpanhou la até al salon, adonde fui recebida pulas dues amigas deilha cun muitas palabras de cuntentamiento; i Elizabeth nunca las habie bido tan amables cumo naqueilha hora mesmo antes de la benida de ls cabalheiros. Sabien mesmo cumo cumbersar. Éran capazes de fazer la çcriçon dũa fiesta cumo habie de ser, cuntar ũa lhona bien cuntada, i fazer caçuada cun grácia de las pessonas coincidas deilhas.
Mas quando ls homes antrórun, Jane deixou de ser l centro de las atençones; ls uolhos de la Menina Bingley lhougo se bolbírun para Darcy, i eilha tenie yá algo pa le dezir inda antes de el haber dado alguns passos. El fui dreito a la Menina Bennet, cun amables parabienes; l Senhor Hurst fizo le tamien ũa pequeinha dénia, i dixo le que staba “mui cuntento”; mas l palabreado i la calentura quedórun pa l saludo de l Senhor Bingley. Este staba mui cuntento i cheno de atençones. La purmeira meia hora gastórun la a abibar l lhume, para que a eilha nun le fazisse mal la mudança de sala; i a pedido deilha fui se a poner de l outro lhado de l lhume, de modo a quedar mais loinje de la puorta. Antoce, el sentou se an pie deilha, i quaijeque nun falou cun mais naide. Elizabeth, cun un lhabor na squina cuntraira, miraba todo esso cun grande sastifaçon.
Acabado l chá, l Senhor Hurst lhembrou le a la cunhada la mesa de jogo—mas ambalde. Eilha sabie alhá cun eilha que l Senhor Darcy nun tenie gana de cartas; i l Senhor Hurst lhougo biu tamien  un pedido çclarado ser negado. Eilha garantiu le que naide tenie gana de jogar, i l silenço de todos subre esse assunto parecie le dar rezon. Antoce, l Senhor Hurst cumo nun tenie nada que fazer, sentou se nun çofá i botou se a drumir. Darcy agarrou un lhibro; la Menina Bingley fizo l mesmo; i la Senhora Hurst, mais acupada a jogar culas sues pulseiras i anielhos, ajuntaba se de beç an quando  a la cumbersa de l armano cula Menina Bennet.
L’atencion de la Menina Bingley staba quaije tan acupada a mirar l abanço de l Senhor Darcy ne l lhibro del, cumo a ler l deilha; i staba siempre a fazé le preguntas, ou a mirar pa la fuolha del. Assi i todo, nun era capaç de l sacar para ũa cumbersa; el solo le cuntestaba a la pregunta deilha, i tornaba a la lheitura. Al fin, yá agoniada cula eideia de tener de s’adbertir cul l lhibro deilha, que solo habie scolhido porque era l segundo belume de l del, abriu muito la boca i dixo, “Que agradable ye passar ũa nuite desta maneira! You çclaro apuis de todo esto que nun hai adbertimiento que s’acumpare a la lheitura! Cumo tan debrebe mos fartamos de todo l que nun seia un lhibro! Quando tubir la mie própia casa, bou me a sentir perdida se nun tubir ũa buona biblioteca.”
Naide le dou repuosta nien calabaça. Antoce eilha tornou a abrir la boca, puso l lhibro de lhado, i botou ls uolhos alredror la sala a saber de algo que l’antretubira; al oubir l armano deilha a amentar nun baile a la Menina Bennet, bolbiu se debrebe para el i dixo le:
“A perpósito, Charles, a sério que stás a pensar an dar un baile an Netherfield? You acunselharie te, antes de treminares esso, a oubir ls deseios de las pessonas eiqui persentes; ou you muito m’anganho ou hai antre nós alguns  para quien un baile será mais un castigo do que un adbertimiento.”
“Se stás a pensar an Darcy”, cuntestou le l armano deilha, “el poderá se ir a la cama, se quejir, antes de el ampeçar —mas ne l que respeita al baile, ye cousa assente;  assi que Nicholls tenga arranjado bubidas que chéguen, bou a a mandar ls cumbites.”
“You iba a gustar muito mais de ls bailes”, retrucou le eilha, “se fúran feitos dũa outra maneira; mas hai algo que trai un grande anfado na maneira questumada de fazer esses juntouros. Pula cierta iba a ser muito  mais racional se la cumbersa stubise na orde de l die an beç de la dança.”
“Muito mais racional si, mie querida Carolina, mas ende pouco se aparecerie cun un baile.”
La Menina Bingley nun le respundiu, i a seguir lhebantou se i puso se a passear pula sala. Tenie ũa figura alegante, i un andar lhebe; mas Darcy, a quien todo staba çtinado, inda cuntinaba agarrado a studar sien se çtrair. Ne l zaspero de ls sous sentimentos, eilha resolbiu fazer un redadeiro sfuorço, i, bolbendo se para Elizabeth, dixo le:
“Menina Eliza Bennet, deixai que bos cumbide a seguir l miu eisemplo, i a dar ũa buolta pula sala. Acraditai que faç mui bien apuis de se star tanto tiempo sentada na mesma ampostura.”
Elizabeth quedou admirada, mas aceitou lhougo. La Menina Bingley nun tubo menos éisito quanto al verdadeiro oubjetibo de l cumbite deilha; l Senhor Darcy lhebantou ls uolhos. El staba tan spantado pula nobidade de l cumbite cumo lo poderie star la própia Elizabeth, i ancuncientemente cerrou l lhibro. El fui cumbidado a ajuntar se a eilhas, mas nun quijo, çclarando que solo manginaba dues rezones para eilhas queréren andar juntas pula sala, i an qualquiera de las rezones la perséncia del nun era cumbeniente. «Quei quererie el dezir? Eilha staba mortica por çcubrir qual poderie ser l sou sentido.»—i preguntou le a Elizabeth se eilha lo antendira.
“De maneira nanhue”, respundiu le eilha, “mas podeis star cierta, el quiermos deixar mal, i la melhor maneira de l zapuntar serie nun le preguntar nada subre esso.”
La Menina Bingley, assi i todo, era ancapaç de zapuntar l Senhor Darcy an nada, i ateimou an le pedir ũa splicaçon de las dues rezones del.
“Nun tengo nada contra an splicá las”, dixo el, assi que eilha lo deixou falar. “Dambas a dues scolhistes esta maneira de passar la nuite porque le dezis segredos ũa a l’outra, i teneis assuntos pessonales a çcutir, ou porque teneis cuncéncia de que las buossas figuras s’aperséntan cun mais bantaijes al passear; ne l purmeiro causo, you iba me a meter ne ls buossos assuntos, ne l segundo, puodo admirar bos muito melhor sentado an pie l lhume.”
“Á! ten grácia!” dixo la Menina Bingley. “Nunca oubi nada tan abominable. Cumo lo bamos a castigar por estas palabras?”
“Nada mais fácele, se stubirdes buolta para ende”, dixo Elizabeth. “Todos mos podemos atermentar i castigar uns als outros. Anrezinai lo—facei caçuada del. Íntema cumo bós sodes, habereis de saber cumo fazer esso.”
“Mas palabra d’honra, nun sei. Asseguro bos que la mie antemidade inda nun me ansinou tal cousa. Cun esta serenidade de carátele i perséncia de sprito! Nó, nó — sinto que nun lo lhebaremos de bencida. Quanto a fazer caçuada, nun mos debemos astrebir, se fazeis fabor, a fazer caçuada sien ũa rezon. L Senhor Darcy puode agabar se desso.
“L Senhor Darcy nun ye para caçuadas”, dixo Elizabeth. “Essa ye ũa bantaije pouco quemun, i pouco quemun spero que cuntine, puis serie ũa perda grande para mi tener tantos coincidos assi. Gusto dũa buona risada.”
“La Menina Bingley”, atalhou el, “dou me mais crédito do que la cuonta. L mais sabido i l melhor de ls homes— melhor, ls mais sabidos i ls melhores feitos del—puode se tornar redículo na boca dũa pessona an que l percipal oujetibo na bida ye caçuar.”
“Pula cierta", retrucou Elizabeth —“hai pessonas assi, mas you spero nun ser ũa deilhas. Spero nunca fazer caçuada de l que ye sabido i buono. Las boubadas i ls çparates, ls caprichos i las cousas sien sentido, si m’adbírten, cunfesso, i fago caçuada deilhas siempre que puodo. Mas essas, cuido you, son mesmo las que bós nun teneis.”
“Talbeç esso nun seia possible para naide. Mas ten sido l studo de la mie bida nun caier naqueilhas fraquezas que muita beç pónen a rediclo ũa alta anteligença.”
“Cumo tal la baidade i la la proua.”
“Si, la baidade ye mesmo ũa fraqueza. Mas la proua—adondequiera que haba ũa berdadeira superioridade de anteligença, la proua stará siempre sujeita a un bun cuntrole.”
Elizabeth bolbiu se para scunder ũa risa.
“L buosso eisame al Senhor Darcy acabou, supongo you”, dixo la Menina Bingley; “i dezi me qual ye la cunclusion?”
“Stou mesmo cumbencida de que l Senhor Darcy nun ten defeitos. El própio lo aceita sien arrodeios.”
“Nó”, dixo Darcy, “nunca tube ũa eideia dessas. Tengo defeitos que chéguen, mas eilhes nun son, spero you, d’anteligença. L miu carátele nun respondo por el. Ye, cuido you, pouco anteligente de mais—pula cierta pequeinho de mais pa la cumenéncia de las pessonas. Nun sou capaç de me squecer de ls çparates i de ls bícios de ls outros, nien de las oufénsias deilhes contra mi. Ls mius sentimentos nun s’apágan por muito sfuorço que faga pa ls mudar. L miu carátele talbeç puoda ser chamado de rancoroso. La mie buona oupenion subre alguien perdida ũa beç, ye perdida para siempre.”
“Esse ye un defeito de berdade”, dixo Elizabeth. “L rancor amplacable ye ũa mancha ne l carátele. Mas bós scolhistes bien l buosso defeito. Nun sou capaç de me rir del. Stais salbo de mi.”
“Hai, acredito you, an cada carétele ũa tendéncia para un cierto mal—un defeito natural, que nien siempre la melhor eiducaçon ye capaç de arrepassar.”
“I l buosso defeito ye tener le senreira a todo mundo.”
“I l buosso”, respundiu le el cun ũa risa, “ye antenderdes mal las pessoas de perpósito.”
“Bamos a tocar un cachico”, dixo la Menina Bingley, cansada dũa cumbersa de que eilha nun fazie parte. “Louisa, nun t’amportas que sperte l Senhor Hurst?”
L’armana nun s’amportou nada, i l piano fui abierto; Darcy, apuis de pensar alguns sfergantes, nun staba arrependido desso. Ampeçou a sentir l peligro de le dar atencion a mais a Elizabeth.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O Cavaleiro de Westeros - B.D



Título: O Cavaleiro de Westeros
Autor: George R. R. Martin
Adaptação: Ben Avery
Desenho: Mike S. Miller
Pintura: Mike Crowell
Tradução: Jorge Candeias
Edição: Saída de Emergência
Nº de páginas: 176


"O continente de Westeros é o cenário onde se desenrola a saga de George R. R. Martin, as Crónicas de Gelo e Fogo. O Cavaleiro de Westeros decorre cerca de cem anos antes do início do primeiro livro das Crónicas, no tempo do rei Daeron, com o reino em paz

Quando a vida de um cavaleiro termina, a sua morte pode ser o começo de uma nova vida para o seu escudeiro. Intitulando-se de “Sor Duncan, o Alto”, o jovem Dunk parte em busca de fama e glória no torneio de Vaufreixo, mas também sonha em prestar juramento como cavaleiro dos Sete Reinos. No caminho, encontra um rapaz misterioso que está determinado em ajudá-lo na sua demanda. Infelizmente para Dunk, o mundo pode não estar preparado para um cavaleiro que mantém a sua honra. E os seus métodos cavalheirescos podem vir a ser a sua ruína… Uma história fascinante sobre honra, violência e amizade, pela mão do grande mestre da literatura fantástica: George R. R. Martin."


A SdE editou no passado mês de Setembro, à semelhança do que tem vindo a acontecer com outras editoras que tradicionalmente não publicam livros deste género, o seu primeiro livro de Banda Desenhada. Talvez a novidade me tivesse passado um pouco ao lado não fosse o facto do autor da dita ser Martin e ter lido, não há muito tempo, o conto em prosa num outro livro desta editora. Na verdade, depois de ler a versão original desta estória, e como fã das Crónicas de Gelo e de Fogo, não podia deixar passar esta adaptação.

A curiosidade era muita mas as espectativas não saíram defraudadas. Sobre a estória em si pouco mais há a acrescentar à sinopse. Passando-se na época do rei Daeron II, no início do declino dos Targaryen - pelo menos na minha opinião, dado que, nesta altura, já nem há dragões - esta narrativa dá-nos a conhecer um pouco melhor alguns dos personagens que os fãs das Crónicas apenas conhecem "de nome" e mostra-nos que, tal como cem anos depois (até como nos dias de hoje) os preceitos da cavalaria não eram praticados e defendidos pelos grandes cavaleiros e senhores. Porém, como não podia deixar de ser, há sempre alguém que se lembra que é seu dever proteger os mais fracos e oprimidos, defender aquilo em que acredita e cultivar valores como a amizade, a caridade e a bondade. Duncan, o Alto, um auto-intitulado cavaleiro andante, é um destes personagens e por ir contra a ordem instalada acaba por se ver em maus lençóis  A estória atinge o clímax com uma batalha em que se opõem 2 grupos de sete cavaleiros e que, nesta B.D, está muito bem a nível gráfico. 

No que respeita à adaptação em si penso que Ben Avery conseguiu manter muito bem a narrativa e o fio condutor da mesma não deixando pormenores pelo caminho pelo facto de se tratar de uma B.D. Na verdade, a narrativa decorre no mesmo ritmo moderado que a noveleta original, aqui muito suportada pelo texto em off. Os gráficos são muito bons mas houve  dois aspectos que não compreendi muito bem. Por um lado, a opção de Egg ganhar milagrosamente cabelo assim que se descobre a sua verdadeira identidade. É um pormenor, é verdade. Não sou nenhuma entendida em B.D e muito menos nenhuma autoridade para criticar Miller, é igualmente verdade. Mas também penso que o pormenor é importante... Por outro lado, não percebi muito bem a questão da capa e contracapa dos "capítulos". Os gráficos destas capas eram, por vezes, de estilos bastante diferentes do resto do livro, não tinham, a nivel visual, grande ligação. Não gostei. Não sei se nas edições americanas este detalhe também foi introduzido, se aqui aparece por ser uma edição fiel à original, o certo é que não me agradou a nível estético.

Os fãs de Martin vão gostar e pode agradar bastante a alguns leitores de B.D. a quem Westeros tenha, até agora, passado um pouco ao lado.

6/10

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Proua i Percunceito - Capítalo X




L die passou se de modo armano al die atrás. La Senhora Hurst i la Menina Bingley stubírun algues horas de la manhana cun l’amalinada, que cuntinaba a melhorar, anque debagarico; i a la nuite Elizabeth ajuntou se cun eilhas na sala de star. Assi i todo, la mesa de jogo nun se puso. L Senhor Darcy staba a screbir, i la Menina Bingley, sentada an pie del, miraba pa l abanço de la carta i zbiando le muita beç la atencion cun mensaiges pa l’armana del. L Senhor Hurst i l Senhor Bingley jogában al piquet, i la Senhora Hurst staba a mirar pa l jogo deilhes.
Elizabeth agarrou nun trabalhico de agulha, i staba mui antretenida cun atento al que se passaba antre Darcy i la cumpanhie del. Ls agabos que la tie le staba siempre a fazer, tanto a la lhetra cumo a la dreitura de las lhinhas, ó a la grandura de la carta, cun la cumpleta andefréncia cun que ls agabos deilha éran recebidos, formában un curjidoso diálogo, i staba mesmo d’acuordo cula eideia que tenie de cada un deilhes.
“Que cuntenta bai a  quedar la Menina Darcy quando recebir esta carta!”
El nun le cuntestou.
“Bós screbis mesmo mui debrebe.”
“Stais anganhada. Até scribo bastante debagar.”
“Quanta carta nun tenereis l’oucasion de screbir al lhargo de l anho! Cartas de negócios, tamien! Que cousa mala esso nun ha de ser!”
“Antoce, dai bos por feliç que tenga de ser you a screbi las an beç de bós.”
“Pido bos que le dígades a buossa armana que tengo gana de la ber.”
“Yá se l dixe ũa beç, i a buosso pedido.”
“Parece me que nun stais sastifeito cun la buossa pruma. Deixai me aguçá la. Aguço prumas mesmo mui bien.”
“Agradeço bos—mas sou siempre you que aguço las mies.”
“Cumo sodes capaç de screbir dun modo tan dreito?”
El cuntinou calhado.
“Dezi le a buossa armana que quedei mui cuntenta por saber de ls abanços deilha na harpa; i por fabor dezi le tamien que quedei mui admirada cul guapo pequeinho sboço que eilha fizo para ũa mesa, i que lo acho anfenitamente melhor que l de la Menina Grantley.”
“Dais me licença que guarde l buosso antusiasmo para quando tornar a screbir? Por agora nun tengo mais campo p ale fazer justícia.”
“Á! nun ten amportança. An janeiro yá la bou a ber. Mas screbis le siempre cartas tan lhargas i ancantadoras, Senhor Darcy?”
“Son quaijeque siempre lhargas, mas se son siempre encantadoras ou nó esso yá nun debo de ser you a dezi lo.”
“Tengo ũa regra cumigo, que ũa pessona cun facilidade an scribir ũa carta lharga, nun puode screbir mal.”
“Esse agabo nun ten a ber cun Darcy, Caroline,” atalhou l armano, “porque el nun scribe cun facelidade. El fai sfuorço a mais para achar palabras de quatro sílabas. Nun ye berdade, Darcy?”
“L miu stilo de scrita ye mui defrente de l buosso.”
“Á!” dixo la Menina Bingley, “Charles ye un çcuidado a screbir. Come la metade de las palabras i sborrata l restro.”
“Las eideias bénen me tan debrebe que nun me dan tiempo de las screbir—esso quier dezir que las mies cartas a las bezes nun lhieban qualquiera eideia al que las recibe.”
“La buossa houmildade, Senhor Bingley,” anterbieno Elizabeth, “debe de zarmar qualquiera cinçura.”
“Nada ye mais anganhoso,” dixo Darcy, “do que l’aparença d’houmildade. Muita beç ye solo preguícia mental, i a las bezes ye gabarolice andireta.”
“I qual de las dues le chamas al miu reciente ato de modéstia?”
“Ũa gabarolice andireta; puis tu tenes mesmo proua nas tues falhas de scrita, porque las cunsidras cumo benindo dun pensamento delgeiro i de un çcuido d’eisecuçon, cousa que cunsidras, se nó cumo dina de stima, al menos cumo mui antressante. L poder de fazer qualquiera cousa mui debrebe ye sempre apreciado por quien l ten, i muita beç sien le dar amportança a l’ampurfeiçon cun que se fai. Quando esta manhana le deziste a la Senhora Bennet que se algue beç te resolbisses a deixar Netherfield an cinco minutos lo fazeries, stabas, ye berdade, stabas te a dar a modo un agabon a ti mesmo—mas quei hai de lhoubable nũa cousa feita a la priessa que siempre deixa assuntos amportantes por tratar, i puode nien ser ũa berdadeira bantaige para ti ou qualquiera outra pessona?”
“Nó,” sclamou Bingley, “esso ye demais, lhembrar a la nuite todos ls çparates que fúrun dezidos a la purmanhana. Mas, palabra de honra, staba cumbencido de que ye berdade l que dixe a miu respeito, i inda cuntino a star agora. Al menos, assi i todo, nun assumi sien sentido un carátele delgeiro solo para me amostrar delantre las ties.”
“Acradito que stubiras cumbencido; mas nun stou nada cumbencido de que te furas assi tan debrebe. La tue cunduta nessa altura iba a depender tanto de la suorte cumo la de outra pessona qualquiera; i se, yá anriba de tou cabalho, un amigo te dezira: «Bingley, fazies melhor an quedar acá até a la sumana que ben», tu eras capaç de fazer esso mesmo, cumoquiera nun te ibas a ir—i cun mais outra palabra, talbeç quedasses un més.”
“Cun esso bós solo amostrestes,” sclamou Elizabeth, “que l Senhor Bingley nun le fizo justícia al sou própio carátele. Faborecistes lo bós mais agora do que el próprio lo habie feito.”
“Stou bos mui agradecido,” dixo Bingley, “por bolberdes l que l miu amigo acabou de dezir nun agabo a la brandura de l miu carátele. Mas cuido que stais a mirar por un lhado que nun ye l que aquel cavalheiro quier amostrar; el pula cierta tenerie melhor eideia de mi, se nessa oucasion you dezisse çclaradamente que nó, i me fusse ambora assi que podira.”
“Mas antoce l Senhor Darcy cunsidra l’amprudéncia de la buossa antençon oureginal cumo resolbida pula buossa caturrice an la mantener?”
“Nun sou you que bos debo falar desse assunto; Darcy puode falar a respeito del mesmo.”
“Quieres que te apersente ũa splicaçon para oupeniones que dás cumo mies, mas que you nun reconheço cumo tales. Assi i todo, tornando al causo, cunsante la buossa eideia, debeis lhembrar bos, Menina Bennet, de que l amentado amigo que deseia que quede i adie la salida del, solo deseou esso, pediu le esso sien apersentar un argumento a fabor.”
“Aceitar debrebe —facelmente — la lucitaçon dun amigo nun ye ũa bantaije buossa.”
“Aceitar sien star cumbencido tamien nun abona a fabor de l’anteligença de dambos a dous.”
“Quedo cula eideia, Senhor Darcy, que bós nunca aceitais l’anfluença de l’amisade i de l’afeiçon. Ũa cierta stima pul que pide puode muita beç lhebar alguien a aceitar l pedido, sien asperar por argumientos. Nun stou a falar an special ne l causo que manginestes a respeito de l Senhor Bingley. Talbeç tubíssemos que asperar que dira l causo, i nessa altura çcutir l cumportamiento del.  Mas an giral i an causos normales antre  amigos, quando un deilhes quier que l outro modefique algue decison de pouca amportança, lhebariedes a mal que essa pessona aceitasse l deseio, sien asperar las rezones a fabor del?”
“Nun serie acunselhable, antes de cuntinarmos cun este assunto, defenhir de modo mais claro l’amportança que ten esse pedido, i tamien que antemidade hai antre ls amigos?”
“Mui bien,” sclamou Bingley; “bamos a atentar an todos ls pormenores sien mos squecermos de acumparar l peso i la grandura; porque esso puode tener mais peso na argumentaçon, Menina Bennet,  do que bós cuidais. Garanto bos, que se l Senhor Darcy nun fura tan alto cumo ye, an acumparaçon cumigo mesmo, nun lo iba a tener tan grande stima cumo lo tengo. Cunfesso que nun conheço pessona mais amponiente do que Darcy, specialmente an ciertas oucasiones, i an ciertos lhugares; an special an casa del, i nas tardes de demingo, quando nun ten nada que fazer.”
Al Senhor Darcy dou le la risa; mas Elizabeth dou se de cuonta de que el habie quedado oufendido, i por esso angulhiu la risa. La Menina Bingley amostrou se mui afruntada pula oufénsia que el recebira, i renhiu cun l armano por bias de ls çparates que acabara de dezir.
“Antendo la tue eideia, Bingley,” dixo l amigo. “Nun te agrádan las çcuçones, i quieres agora acabar esta.”
“Talbeç querga. Argumentar ye mui aparecido cun çcuçones. Se tu i la menina Bennet podirdes sperar até que you sala de la sala, muito bos quedarei agradecido; i ende yá podereis dezir de mi todo l que bos dir la gana.”
“L que bós pedis,” dixo Elizabeth, “nun representa qualquiera sacrafício para mi; i l Senhor Darcy ye melhor que acabe la sue carta.”
L Senhor Darcy seguiu l cunseilho deilha, i acabou la carta.
Mal apenas acabou esse trabalho, pediu le a la Menina Bingley i a Elizabeth que le díran l prazer de algue música. La menina Bingley fui lhougo mui lista para an pie l piano; i, apuis de le ouferecer la beç a Elizabeth de modo delicado que eilha tamien mui delicada i sinceramente nun aceitou, sentou se eilha mesma.
La Senhora Hurst cantou cula armana, i enquanto eilhas stában assi acupadas, Elizabeth nun podie deixar de se dar de cuonta, anquanto çfolhaba alguns lhibros de música spalhados porriba l strumiento, de l modo cumo l Senhor Darcy nun tiraba ls uolhos deilha. Custaba le a suponer que eilha podira ser un causo de admiraçon para tan grande home; puis que el mirasse para eilha porque le zagradaba inda serie mais stranho. Al fin, pudo manginar que talbeç eilha le chamara l’atencion porque haberie neilha algo de pior i mais cinçurable, cunsante las eideias que el tenie de eiducaçon, do que an qualquiera outra pessona eilhi persente. Assi i todo, un suponer desses staba loinje de la ferir. Eilha gustaba del pouco demais para se preacupar cula aprobaçon del.
Apuis de haber tocado algues modas eitalianas, la Menina Bingley mudou l ritmo para ũa moda scocesa mais biba; i lhougo ende l Senhor Darcy, achegando se de Elizabeth, dixo le:
“Nun stais mesmo cun gana, Menina Bennet, de aporbeitar esta ouportenidade para beilar un reel [Nota de l tradutor – baile scocés]?”
A eilha dou le la risa, mas nun le respundiu. El tornou a la pregunta, un cachico surpreso cun l silenço deilha.
“Á!” dixo eilha, “yá bos oubi antes, mas nun me resolbie subre l que bos habie de dezir de repuosta. Bós gustábades, bien sei, que you bos dezisse que si, de modo a tenerdes l gusto de çpreziar l miu sentir; mas a mi gusta me siempre botar abaixo essas treminaçones, i dar le la buolta a giente que yá ten un çprézio na cabeça. Resolbi, por esso, dezir bos, que nun tengo gana nanhue de beilar un reel—i agora çpreziai me se furdes capaç.”
“Claro que nun sou capaç.”
Elizabeth, que staba a spera de lo oufender, quedou spantada cula delicadeza del; mas habie a modo ũa mistura de doçura i de malícia ne ls modos deilha que era custoso que podira oufender a alguien; i Darcy nunca antes se sentira tan pensatible cun ũa mulher cumo por eilha. El acraditaba mesmo, que se nun fura la baixa parentena deilha, el staba an algun peligro.
La Menina Bingley biu, ou suspeitou l bastante para quedar cun ciúmes; i la sue grande gana an ber sanar la sue querida amiga Jane tubo un cierto refuorço pul deseio de se lhibrar  de Elizabeth.
Eilha muita beç fazie por porbocar Darcy para que se zeiludira de la sue huospeda, falando le de l supuosto casamento deilhes, i manginando la felcidade que essa aliança le iba a traier.
“Spero,” dezie le eilha quando, a soutordie, passeában dambos a dous ne l jardin, “que nun déixedes de le dar a la buossa suogra alguns abisos, quando un causo tan deseable se passe, a respeito de la bantaije an tener tento na lhéngua; i se podirdes cunseguir esso, arranjai modo de las rapazas mais nuobas nun andáren atrás de oufeciales. I, se puodo topar an assunto tan delicado, fazei l possible por atamar esso algo, a roçar la perjunçon ou l’ampertinença, que la buossa moça ten.”
“Teneis mais algue cousa a aperponer pa la mie felcidade caseira?”
“Á! claro que si! Reserbai un campo pa l retrato de l buosso tiu i tie Philips séian colgados na galherie de Pemberley. Ponei los al lhado l buosso tiu abó juiç. Ténen l mesmo oufício, solo an nible defrente. Quanto al retrato de la buossa Elizabeth, nun l débeis de mandar pintar, puis que pintor serie capaç de le fazer justícia a aqueilhes uolhos guapos.
“Nun iba a ser fácele, ye berdade, agarrar le la spresson, mas la quelor i la forma, i las ceilhas, tan delicadas i purfeitas, poderien ser copiadas.”
Nessa altura eilhes fúrun ancuntrados pula Senhora Hurst i la própia Elizabeth benidas dun outro caminho.
“Nun sabie que faziedes tencion de passear,” dixo la Menina Bingley, algo cunfusa, al pensar que las tubíran scuitado.
“Portestes bos mui mal cun nós,” respundiu le la Senhora Hurst, “scapando bos sien mos dezir que beniedes a passear.”
Antoce agarrando l braço lhibre de l senhor Darcy, eilha deixou a Elizabeth a passear eilha sola. Ne l caminho solo cabien trés. L Senhor Darcy dou se de cuonta de la falta de delicadeza, i lhougo dixo:
“Este caminho nun ye ancho bastante para todos quatro. Era melhor irmos pa l’abenida.”
Mas Elizabeth, que nun staba cun grande gana de cuntinar cun eilhes, contestou le cun ũa risa:
“Nó, nó; deixai bos star. Cumponeis un grupo tan encantador, i stá muito melhor assi. Aceitar ũa quarta pessona iba lo a stragar. Até lhougo.”
Antoce eilha saliu deilhi cuntenta, alegrando se al pensar anquanto caminhaba, cula sprança de star outra beç an casa deilhi a un ou dous dies. Jane melhorou tanto que nessa mesma tarde fazie tencion de deixar l quarto por un par de horas.”