segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Os Escolhidos

 

Título: Os Escolhidos
Autor: Veronica Roth
Editora: Saída de Emergência
Tradução: Patrícia Xavier
Nº de páginas: 401


Sinopse: Há mais de uma década, cinco adolescentes - Sloane, Matt, Ines, Albie e Esther - foram reunidos por uma agência governamental com base numa profecia que dizia serem eles os Escolhidos que destruiriam O Tenebroso, uma entidade maligna que espalhou o caos e ceifou milhares de vidas. Com o objetivo alcançado, a Humanidade celebrou a vitória. Mas o conflito deixou marcas profundas. Se o mundo seguiu em frente e há uma nova geração que não tem memória da guerra, tal não acontece a Sloane. É impossível para ela esquecer os segredos que a perseguem e O Tenebroso ainda assombra os seus sonhos. Ao contrário dos restantes, Sloane não conseguiu seguir em frente; sente-se à deriva - sem direção, objetivos ou propósito.

Na véspera das celebrações dos Dez Anos de Paz, um novo trauma atinge os Escolhidos: a morte de um deles. E quando se reúnem para o funeral descobrem, para terror de todos, que o reinado d'O Tenebroso nunca terminou verdadeiramente.


Segundo o bookstagram, muitos blogs e até alguns profissionais da área, este é um dos melhores debuts do ano em Adult Fantasy. Para não variar muito, a minha opinião e a da maioria das pessoas diverge um bocado (só um bocadinho mesmo, coisa pouca...) isto porque, para mim, a autora deveria ter estado sossegada e continuar a escrever YA. Ou então, se queria tanto lançar-se em algo direccionado para um público mais adulto devia ter tido mais cuidado e ter feito melhor os trabalhos de casa.


O simples facto de os personagens não serem adolescentes, não faz do livro um livro para adultos. A maneira como a história é narrada, os elementos que são inseridos, as temáticas abordadas e o modo em que essa abordagem é feita, entre tantas outras coisas, tornam ou não a coisa num livro para adultos. E este não me parece que possa ser assim chamado (a não ser que seja para adultos muito pouco exigentes e que não questionam o que leem). Mas, vamos por partes.

Logo na sinopse percebemos que a permissa não é nova nem original mas, vai daí  há imensos livros que obedecem à mesma e são óptimos, isso não quer dizer nada de maneirra que damos uma oportunidade e começamos a conhecer os personagens. Neste caso, hã um grupo de cinco jovens na casa dos 30 que, em tempos, salvaram o mundo de um vilão horrível e maquiavélico mas que hoje têm maneiras diferentes de lidar com a coisa. A maioria deles ficou com stress pós-traumático e tenta ultrapassar os seus problemas recorrendo a drogas e coisas que tais. A que se nos apresenta como personagem principal além de tudo ainda se esconde debaixo de uma camada enorme de má educação que justifica com o querer fugir da fama. Já o sádico vilão, além de ninguém perceber que objectivo o move, tem o ridículo nome de O Tenebroso... esqueçam, não consegui sequer respeitá-lo quanto mais temer que me aparecesse à frente. E a primeira parte do livro é isto. Vamos assistindo ao dia-a-dia destes cinco e vamos tendo uns vislumbres do que aconteceu quando eles eram novos e supostamente salvaram o mundo. O ritmo é lento, não acontece nada e a narrativa na terceira pessoa só serve para ser ainda mais dificil criar algum tipo de empatia com os personagens.

Na segunda parte do livro, a rapaziada apercebe-se que afinal não salvou o mundo coisa nenhuma (afinal, aquilo não era tarefa para entregar a adolescentes) e decidem fazê-lo bem desta vez. A acção começa a ser mais rápida e a história começa a ficar mais interessante. Problema? Vários, na verdade. 
Para começar há uns desenvolvimentos à la The Dark mas, ou houve bastantes cortes ou a autora não tem bagagem suficiente para explicar a teoria dos wormwhole e dos mundos paralelos. Ora, se a narrativa vai assentar numa determinada temática tens que estar bem preparado para a explicar aos leitores de modo a que mesmo quem nunca tenha ouvido falar de semelhante coisa fique com umas luzes mínimas. Não aconteceu. 
Segundo problema, não bastava O Tenebroso que temos um segundo vilão com um nome igualmente ridículo. Esqueçam.... Esqueçam mesmo porque o desenrolar da coisa é caótico. Embora o leitor perceba o que acontece nota-se claramente que houve cortes e há imensas coisas em falta. Não sei porquê e quem decidiu esses cortes mas, claramente, não sabia bem o que estava a fazer. Tira o interesse todo e deixa o leitor meio à deriva.
Para terminar, o terceiro problema (uma desgraça nunca vem só...). Os protagonistas resolvem a situação com recurso a uns artefactos que nunca descobrimos bem o que são ou de onde vieram e, imaginem só, a heroina da coisa não se questiona nem uma única vez quais são as consequências pessoais das suas acções, o que é que os seus actos vão acarretar para a sua própria existência (estes personagens têm a profundidade de uma folha de papel e a sensibilidade de um comboio em descarrilamento, enfim!!).

Resumindo, apesar de ser o volume introdutório a uma trilogia ou saga, deixou muito mas muito a desejar. Introduziu, sim, mas não explicou não esclareceu e senti-me perdida no meio de tanta coisa em falta. Os personagens são planos e é super dificil identificarmo-nos com eles, além de que são uma cambada de egoistas. Não foi uma leitura agradável (na verdade, andei a arrastar e só terminei por pura teimosia). 

2/10

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

El Silencio de la Ciudad Blanca

 

Título: El Silencio de la Ciudad Blanca
Série/ Saga: Trilogia de la Ciudad Blanca (#1)
Autor: Eva Garcia Sáenz de Urturi
Edição: Booket - Planeta de Libros
ISBN: 9788408223160
Nº de páginas: 475 páginas


Sinopse: Tasio Ortiz de Zárate, el brillante arqueólogo condenado por los extraños asesinatos que aterrorizaron la tranquila ciudad de Vitoria hace dos décadas, está a punto de salir de prisión en su primer permiso cuando los crímenes se reanudan de nuevo: en la emblemática Catedral Vieja de Vitoria, una pareja de veinte años aparece desnuda y muerta por picaduras de abeja en la garganta. Poco después, otra pareja de veinticinco años es asesinada en la Casa del Cordón, un conocido edificio medieval.

El joven inspector Unai López de Ayala —alias Kraken—, experto en perfiles criminales, está obsesionado con prevenir los crímenes antes de que ocurran, una tragedia personal aún fresca no le permite encarar el caso como uno más. Sus métodos poco ortodoxos enervan a su jefa, Alba, la subcomisaria con la que mantiene una ambigua relación marcada por los crímenes… El tiempo corre en su contra y la amenaza acecha en cualquier rincón de la ciudad. ¿Quién será el siguiente?

Una novela negra absorbente que se mueve entre la mitología y las leyendas de Álava, la arqueología, los secretos de familia y la psicología criminal. Un noir elegante y complejo que demuestra cómo los errores del pasado pueden influir en el presente.



Regra geral recuso-me a ver um filme sem ler antes o livro (vai daí, tenho montanhas de filmes e séries em atraso que é para aprender a não ser parva) mas esta trilogia foi uma excepção. Vá-se lá saber porquê, houve um acidente e dei por mim num sofá, em boa companhia, a ver a adaptação que a Netfilx fez do primeiro volume e, embora já soubesse de antemão quem era o criminoso, fiquei agarrada ao livro como se não soubesse nada do que se ia passar. O livro é tão melhor que o filme!! (grande novidade, né?? Pois... Ainda por cima a quererem que uma atriz com uns visíveis 55 passasse por alguém de 40. Tem dó ó Netflix!)

Há 20 anos a cidade de Victoria, em Navarra, viu-se aterrorizada por um assassino que agora parece estar de regresso. Não posso contar muito mais sem começar para aqui com spoilers mas posso adiantar que a autora transmite muitíssimo bem essa tensão, o medo, a impotência dos personagens principais face ao desconhecido, o sentimento de injustiça não apenas com as mortes que vão acontecendo (sim, são mesmo muitas mortes) mas também para com os investigadores a quem se exige que fechem o caso, que apanhem o culpado e devolvam a paz à cidade o mais rápido possível. Estes níveis de tensão vão sendo cruzados com um nível alto de curiosidade relativamente à vida pessoal actual e ao passado dos diversos personagens. E muito embora as viagens ao passado possam revelar prematuramente várias pistas relativamente à identidade do assassino, o facto é que este entrosamento está muito bem conseguido. Eu simplesmente adorei conhecer o passado de alguns personagens e até dos pais destes e ter um vislumbre da sociedade Victoriana e espanhola em meados do século passado. Fui mesmo conquistada por esta parte da trama!

Relacionados com estes loops temporais estão também os dramas e segredos, os recalcamentos e os maiores desejos de diversos personagens, tal como as ligações e relações entre eles e que levantam imensas questões. Na sua maioria, são personagens fortes e decididos a seguir em frente, a deixar para trás os desaires do passado e a trabalhar por ser melhores pessoas, mais merecedoras daquilo que desejam e julgam merecer. É bastante fácil criar empatia com grande parte dos personagens mas, tenho que confessar, que adorei o MatuSalem, o avô e o German e que me enervei muitas vezes com o Unai e a Estibaliz e as atitudes deles (e, ainda em cima, são os personagens principais... não me deviam ter irritado tantas vezes!!). Há imensos segredos, frustrações, relacionamentos escondidos, pessoas que pensam que as amizades aguentam tudo ou que tudo se lhes pode sobrepor... Em mais do que uma ocasião fiquei a pensar que, de facto, certas coisas descritas acontecem, são possíveis e que mesmo convivendo diariamente com alguém podemos nunca conhecer a pessoa, os seus segredos e desejos. É a verdade, para todos os nossos relacionamentos, mas em certos aspectos é, mais que um pensamento triste e negro, uma realidade que me mete algum medo. 

Outro elemento que me conquistou (a par das viagens ao passado...lol!) e que está muito presente em toda a trama é o folclore, a mitologia e as tradições daquela região. Victoria e os seus habitantes, são personagens orgulhosos do seu passado e da sua herança cultural e defendem-nos com unhas e dentes e o facto de haver um assassino que usa esses elementos para cometer os seus crimes, que os mancha e suja, deixa uma marca em todos os envolvidos. A grande revelação vai deixar um estigma a pairar em cima de alguns personagens e, se não tivesse visto o filme, tinha-me surpreendido imenso embora, olhando para trás, as pequenas pistas estivessem lá o tempo todo.

Concluindo, se gostam de um bom mistério policial com loops temporais e algum folclore regional à mistura, vão gostar de desvendar estes assassinatos. Eu li na versão original mas está traduzido para português pela Lua de Papel.


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