quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Faye - Asas de Prata

Título: Faye - Asas de Prata
Autor: Camilla Lackberg
Edição: Suma de Letras
Nº de páginas: 376


Sinopse:  "Depois do grande sucesso internacional de Uma Gaiola de Ouro, chega mais um episódio da história de Faye: traição, redenção e solidariedade feminina num novo drama sobre a vingança.

Graças a um plano refinado e cruel, Faye deixou para trás a traição e as humilhações sofridas com o agora ex-marido Jack e parece ter assumido as regras da sua existência: é uma mulher independente, recontruiu a sua vida num outro país e longe do seu passado, Jack está na prisão e a empresa que Fay fundou, Revenge (Vingança) está crescendo com sucesso.

Mas novos desafios correm o risco de quebrar a serenidade conquistada com muito esforço. De facto, o lançamento da marca Revenge nos Estados Unidos da América desperta uma séria ameaça e Faye é forçada a retornar a Estocolmo"



Ora, por onde é que eu vou começar isto sem ofender ninguém e sem ser linchada pelos fãs? Não sei muito bem... A verdade é que este livro está muito, muito longe daquilo a que a autora me habituou. Eu sei que é preciso evoluir e escrever sobre algo mais que o detective Patrick na sua terrinha mas a qualidade desta nova série deixa muito a desejar. 

Já no livro anterior me tinham saltado à vista umas quantas coisas de que não gostei muito mas neste... esqueçam que a coisa não tem ponta por onde se lhe pegue. O que mais me incomodou foi o facto de este ser vendido como um livro feminista e estar longe de o ser. O feminismo não é o contrário do machismo e o que vemos aqui é só agressão gratuita ao sexo masculino. Dei por mim várias vezes a pensar quem raio teria feito tanto mal à autora para ela vir assim a público destilar ódio e raiva contra todos os homens. E o que é que eu quero dizer com isto? Simples, segundo a narrativa, não há um único homem de jeito neste mundo, nenhum homem ama uma mulher, o que eles têm é segundas intenções sejam elas de natureza sexual, económica ou outra. Já as mulheres, queremos ser amadas, é verdade, mas vemos os homens ou como uns brinquedinhos sexuais ou como um bando de rebarbados que nos querem saltar para a cueca (são as duas únicas opções apresentadas). Ora, esta visão do mundo, desculpem, não é feminista. É só uma visão deturpada e com marcas de ressentimento. A sério que não percebi isto.

Toda esta visão do mundo passa para os personagens, obviamente. A maioria são mulheres descritas como independentes, fortes e bem resolvidas mas, a verdade, é que a única que me encaixa na descrição é a Úrsula. Todas as ouotras, incluindo a personagem principal, são mulheres de negócios que se esforçam por passar uma imagem forte mas que só querem um homem. Sim, um desses que elas levam a vida a rebaixar e a pôr de lado. Um comportamento um bocado bipolar e que contribuiu para a irritação extrema que a Faye me causou. Então uma mulher daquelas, supostamente tão forte e resiliente, independente e com segredos enormes, deixa-se enganar assim pelo primeiro badameco que diz que a ama? Uma mulher de negócios como aquela anda entretida a perder tempo com menage a trois, sexo e passeios com o boy em vez de querer, de fcato, saber quem lhe ameaça o negócio?

O que nos leva à trama. Supostamente, o livro seria sobre uma ameaça à Revenge e ela está presente desde o início mas só nas ultimas páginas é que a boa da Faye se lembra que se calhar é mesmo boa ideia deixar-se de namoricos e lutar por aquilo que criou. Hummm.... não me agradou. Além disso, não sei se fui apenas eu mas foi muito simples perceber a jogada toda logo nos primeiros capitulos, quem estava por detrás da ameaça, como o estava a fazer... Percebi tudo e foi frustrante. Mais uma vez, talvez para despistar, a autora esforçou-se demasiado em rebaixar os homens, particularmente o culpado, e foi isso que me mostrou logo quem era. 

Pontos positivos? Até há. Gostei bastante dos capítulos dedicados à infância de Faye e que a autora utiliza para nos mostrar os porquês da personagem. Foram capítulos que me deixaram a pensar nas desgraças que, às vezes, vivem mesmo ao nosso lado, para os sofrimentos silenciosos de tantas crianças. Deixou-me o coração apertado porque, infelizmente, sei bem que estas coisas acontecem. Ainda assim, devo dizer que não me encaixou muito bem a leveza com que a autora recorre ao homícidio sempre que há dificuldades.

Outro ponto positivo e que, talvez (só talvez, atenção) me faça ler o próximo volume, é o paragrafo final. Sim senhor, aquelas últimas frases prometem, veremos se a autora consegue fazer melhor num próximo volume. Se assim não for, só volto a ler quando escrever  de novo sobre o Patrick ou algo mais na mesma linha.


2/5

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Postcrossing, uma caixa de correio feliz ou viajar sem sair do lugar

 Sou pessoa que não consegue estar parada, não consegue dedicar a totalidade do seu tempo a uma única actividade, sobretudo o tempo livre. Sou inconformada, insatisfeita e tenho, por natureza, uma mente irrequieta. Alguns diriam que isso é condição que advém dos astros, que os nativos de gémeos somos assim mesmo. Talvez... Na verdade, depois de aprender a viver em paz com esta falta de quietude que muitas vezes me leva a abandonar projectos e passatempos (atenção, não quer dizer que deixe de gostar das coisas, simplesmente surgem outras mais interessantes) consigo ver que há nela coisas boas. Estou sempre a descobrir algo novo, a aprender coisas novas, a desenvolver capacidades diferentes. Conclusão, vou-me descobrindo a mim mesma.

E que raios tem isso que ver com uma caixa de correio feliz? Muito! Foi por causa desta minha busca constante por coisas novas que, seguindo a minha paixão por escrever cartas e pelo chamado snailmail, há uns anos, descobri o Postcrossing e deixei de ter uma caixa de correio cinzentona, com um conteúdo corriqueiro quase exclusivamente constituido por contas para pagar, para passar a ter uma caixa de correio feliz e colorida!

O Postcrossing é um projecto de troca de correspondência criado em 2005 por Paulo Magalhães (sim, por um português) e que hoje tem 801,889 utilizadores activos. O conceito é simples, receber e enviar postais de e para todo o mundo. E a coisa é muito simples. Registamo-nos no site, criamos o nosso perfil e podemos começar a enviar postais. Inicialmente, podemos enviar até 5 postais de uma vez e o número vai aumentando à medida que vamos atingindo determinadas fasquias. 



Para enviar um postal pedimos ao sistema que nos disponibilize uma morada (que será enviada posteriormente para o nosso mail). O sistema vai mostrar-nos o perfil e morada de outro utilizador e também o ID do postal. Quando escrevermos o nosso postal devemos incluir nele esse ID para que a pessoa que o recebe possa acusar essa recepção. O facto de o sistema nos mostrar o perfil da pessoa a quem vamos escrever é super importante porque podemos, a partir dali, fazer uma pequena pesquisa e ficar a saber se, por exemplo, a pessoa está quase a fazer anos (um postal de aniversário é sempre uma alegria), que tipo de postais são apreciados pela pessoa em causa, se gosta de receber postais nas quadras festivas (ou se, pelo contrário, não gosta de natal, por exemplo), se os postais feitos à mão podem ser uma opção... Enfim, há um sem número de informações úteis que podemos conseguir e que também damos aos outros utilizadores através do perfil.

A maioria dos postcrossers  tem esse cuidado de pesquisa e gosta de enviar algo que agrade porque, regra basilar, gosta que lhe seja feito o mesmo. Para um exemplo concreto deixo a foto dos meus postais da Inga Paltser. Adoro estas corujinhas e refiro-o no meu perfil mas só se encontram na Europa de Leste. Conclusão, há muita gente que ao ver a informação tem o cuidado de, se tiver um postal destes disponivel, me enviar uma. Até já me aconteceu receber um envelope com um postal e um iman exactamente igual. Sim, porque há muitos utilizadores amorosos que não se limitam a enviar o postal. Há quem "engrace" com o nosso perfil e envie, chá, moedas, imans, folhinhas (dessas tipo post-it) coloridas...



E o que é que se escreve no postal? O que nós quisermos. Normalmente, introduzem-se umas palavrinhas na nossa lingua (com a tradução para inglês entre parentisis, pois então) e depois é deixar fluir. Há quem fale da sua vida, há quem fale sobre a imagem do postal, há quem conte curiosidades sobre o seu país e cultura, quem envie receitas de culinária... Vale tudo desde que não seja uma ofensa para quem recebe.

Quando recebemos um postal, devemos ir registá-lo na plataforma recorrendo ao seu ID. Só quando o postal é registado é que a morada fica livre para poder voltar a enviar e receber. Podemos ou não enviar uma mensagem a agradecer. Eu faço-o sempre. Além de ser de bom tom e revelar boa educação, também gosto que me agradeçam e digam duas ou três palavras quando recebem um postal meu.



Um dado a reter e ter em conta é que não vamos receber um postal da pessoa a quem enviámos um. Isso pode acontecer um dia mas o intuito não é termos resposta ao nosso postal. Por isso mesmo, há uma opção nos perfis que é o "direct Swap" e podemos estar ou não abertos à ideia. Quando vemos um perfil de alguém que nos parece porreiro, ou quando recebemos um postal de alguém que nos agradou, podemos ver se está disponivel para "direct swap" e enviar-lhe uma mensagem através da página oficial. Se a pessoa quiser dá-nos a sua morada e pode, assim, criar-se uma troca de correspondência mais ao jeito dos penpal. Também há quem envie os postais num envelope e inclua a morada ou até quem tenha pequenos autocolantes com a morada e que cola nos postais. 

Posso dizer-vos que já fiz boas amizades com "direct swaps". Inclusivé, já fui a Praga visitar uma das minhas penpals e já recebi em Portugal penfriends da Rússia, República Checa e Taiwan (ainda não as visitei todas mas... um dia, lá chegaremos). 



Todas estas "viagens de postal na mão" despertaram em mim mais vontade de saber e conhecer e me proporcionaram uma maneira diferente de olhar o mundo, os locais quem visito e até as outras pessoas. Além da possibilidade de conhecer outras pessoas, há mais aliciantes. Ficar a conhecer elementos de culturas diferentes (às vezes, dou por mim a saber coisas da cultura oriental porque alguém as escreveu num postal, por exemplo), descobrir locais novos e despertar a nossa vontade de saber mais sobre eles, receber um postal de um país que nem sabiamos que existe (já me aconteceu) e, claro, ter algo mais que contas para pagar na caixa do correio.  



Resta-me acrescentar que é completamente seguro e ninguém, senão quem vos enviará o postal, tem acesso à vossa morada.

As fotos que vos deixo são de alguns postais que recebi, de alguns selos (é um cuidado que todos temos nos Correios, pedir selos bonitos em vez do autocolante feio que sai do computador, o preço é o mesmo) e da página do Postcrossing. 

Se se sentirem tentados, visitem a página e experimentem embora vos deva avisar que é altamente viciante. Se quiserem mais informações, esclarecimentos ou ideias... deixem comentário ou enviem mensagem que eu respondo com todo o gosto.


Fiquem bem, boas leituras e...

HAPPY POSTCROSSING!