domingo, 19 de março de 2023




"Feyre, uma caçadora de dezanove anos, mata um lobo na floresta. Como consequência, uma criatura monstruosa aparece em busca de vingança e arrasta-a para uma terra encantada conhecida apenas através de lendas. Ali, porém, a sua prisão é um palácio magnífico e o seu carcereiro não é um monstro. Tamlin, o Grande Senhor da Corte da Primavera, trata-a como uma princesa.

Durante a convivência forçada com ele, os sentimentos de Feyre passam de fria hostilidade a uma paixão que será vivida apesar das advertências. Mas há um mal antigo a corroer aquele reino e a espalhar-se para o dos mortais. Feyre terá de arranjar forma de o deter ou Tamlin e o seu mundo estarão condenados para sempre."


ATENÇÃO, ESTA REVIEW TEM UM SPOILER (devidamente assinalado).


Confesso que estou com uma dificuldade extrema para escrever esta review, quem tem estado mais atento aos stories e destaques do instagram sabe que dei 2,5⭐ a este que é um dos títulos mais populares da actualidade. Antes de me matarem, deixem-me explicar. 
Foi uma leitura entretida? Nem sempre mas, sim. 
Era o que eu precisava? Parece que sim, ajudou-me a sair de uma espécie de ressaca literária.
É um bom livro? Não.

Comecemos pelo início, é assim que as coisas devem começar sempre. Tinham-me vendido o livro como um retelling da história pela qual tenho um carinho especial, "A Bela e o Monstro", e vai-se a ver o que encontro é uma miúda que faz de tudo para cuidar e alimentar um pai apático e imprestável e duas irmãs intragáveis e mal agradecidas. O que é que isto vos faz lembrar? A Cinderela. Pois.
 
Em "A Bela e o Monstro" partimos da premissa de que existe uma maldição. O Príncipe é uma besta insensível e com um feitiozinho de treta e, para ver se aprende as regras do bom viver, ganha um frontispício a condizer com o carácter que demonstrou. Já a Bela, vai em socorro do pai, oferece-se para ficar no seu lugar, e acaba por ter que conseguir ver para lá do que é evidente e além das aparências. Talvez tenha sido esta a maior falha de Sarah J. Maas, só para lá do meio do livro é que o leitor fica a saber que há uma maldição. Antes disso, tudo é confuso e há coisas que acabam por não fazer sentido.

Outra coisa que não resultou para mim foram os personagens. Não consegui criar uma relação mínima de empatia com nenhum. A Freyre por um lado, cuida da família e demonstra ter a força que falta ao pai e às irmãs, por outro lado é tão impulsiva e tão tontinha que só me apetecia abaná-la. Miúda, se estás numa terra estranha, com seres estranhos e onde, supostamente, não és bem-vinda, fazes o que te dizem e, de caminho calas a boca e ficas sossegada. Mas não, parecia as crianças que quando lhes dizemos "não faças isto" vão a correr fazê-lo sem pensar nas consequências. Já o suposto monstro e seu amigo nunca me pareceram monstruosos. Ambos bonitos, altos e espadaúdos (verdade que não lhes vemos a cara mas, do que se vê ou percebe, nada magoa a vista) e, um mais que o outro, cheios de paciência com a menina que apaparicam a toda a hora. Isto não colou de todo.
A personagem melhor conseguida e que ainda contribuiu para a minha alegria foi a rainha malvada, Amarantha, que com as suas maquinações e intriga política lá me conseguiu despertar o interesse. Se a autora se tivesse dedicado menos a romances de pacotilha e mais a explorar a parte da intriga política e a história do território, a coisa teria muito mais interesse. Ainda assim, falhou quando este personagem tão mau e complexo faz um enigma totalmente raso, com zero complexidade e permite a aproximação de Rhysand. A rainha má tinha que ser sempre má, sempre esperta e estar sempre 3 passos à frente.

Outra coisa que me mexeu com o sistema nervoso foram as relações "amorosas" neste livro. Sempre ouvi dizer que era uma autora feminista e defensora das mulheres e depois todas as relações são super abusivas e, pior, a vitima gosta! What??? SPOILER (A sério, não me venham dizer que drogar uma pessoa todas as noites e obrigá-la a dançar praticamente nua em frente a um bando de rebarbados que, se a oportunidade se apresentar, a violariam é coisa que não faz mal nenhum e até se aceita porque é para a salvar. Sorry, mas, independentemente do resultado, isto é abuso.) FIM DO SPOILER
Enfim, já percebi que no segundo volume a coisa tem ali umas reviravoltas mas, neste livro, houve coisas que me caíram muito mal.

Devo acrescentar que achei o fim muito "felizes para sempre" e talvez a história merecesse uma coisa mais hardcore, ou sou eu que gostava que toda a narrativa tivesse ido outra direcção.

Por último, não posso deixar de referir que achei a escrita demasiado simples, insípida até, sem qualquer profundidade e nada que a caracterize por si só excepto o facto de ser demasiado repetitiva.

Talvez acabe por ler o segundo volume, afinal de contas li isto super rápido e até fiquei curiosa para saber como é que a autora chega à situação que já sei que tem lugar nesse livro mas, ainda assim, não estou com pressa. A seu tempo, pode ser que aconteça.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

A Deadly Education - The Scholomance #1

Scholomance, mais que uma escola de magia, é uma obra de engenharia e poder que paira no vácuo e onde cada segundo é uma luta pela sobrevivência. Ali não há professores, a escola distribui as disciplinas e os trabalhos seguindo regras próprias que ninguém conhece e poucos conseguem sequer adivinhar; o perigo vem de, literalmente, todo o lado - a própria escola quer aniquilar todos os que nela residem; as alianças fazem-se em favor da raça ou da proveniência de cada um ou, caso não se faça parte de uma família pertencente a um enclave importante, em função das nossas capacidades mágicas e de sobrevivência. A cereja no topo do bolo? Para conseguir concluir os estudos com sucesso, temos que conseguir sair da escola travando uma luta desigual com um sem número de monstros e criaturas esfomeadas para quem não passamos de um belo petisco.

O que vos parece? Quase o mesmo que o meu secundário. E, tal como me aconteceu naquela altura, os alunos estão ali porque não têm outra hipótese. No caso deles, fugir ao momento em que a escola os teletransporta para o seu interior, lutar por ficar em casa, é uma opção mais mortal que enfrentar o destino na escola.

Confesso que nunca tinha lido Naomi Novik (shame on me...) e, inicialmente, o que me fez continuar foi a voz da personagem principal. El, é irónica e sarcástica de uma maneira deliciosa e que me prendeu. Fez-me lembrar alguém de quem gosto muito. Depois, mais que as aventuras e os mistérios dos personagens foi a escola em si que me fez virar as páginas. Querer perceber o funcionamento de tudo, a engenharia e a filosofia da escola, o sistema de magia, o porquê de certas alianças, de alguns comportamentos, a magia de cada um e como funciona, de onde saem os monstros... É, de facto um "mundo" complexo em que a imaginação da autora comanda completamente e onde nada é realmente o que parece. 

O único ponto negativo e que realmente me travava o ritmo eram as explicações. São todas feitas pela El, já que o livro é narrado na primeira pessoa e são necessárias, é um facto mas... às vezes não era ali, não era aquele o momento. Estamos a meio de uma cena de acção, uma fuga, o que eu quero saber é por onde vão os personagens, se simplesmente fogem ou se usam algum truque ou subterfugio não é, de todo, o momento para me explicarem que personagem A tem daddy issues e que, por isso, talvez tenha havido uma certa dose de injustiça há 100 páginas atrás. Enfim, há explicações que têm que ser feitas para que possamos conhecer melhor s personagens e todo o entorno mas nem sempre são feitas no momento mais pertinente.

Enquanto lia, fui-me deparando com comentários e opiniões que acusavam a autora de racismo e de xenofobia e afins por, por exemplo, a El se referir a alguns aluno como "Arabic Speaker" ou "Chinese speaker" ou por dizer que um determinado personagem tinha tido que cortar o cabelo rente como todos os outros porque uns monstrinhos quaisquer (não me lembro o nome, eles são mesmo muitos, um verdadeiro exército!!) terem feito um ninho nas tranças afro dela como o faziam sempre que alguém tinha o cabelo um bocadinho mais comprido. Ora... a autora desculpou-se pelo episódio das tranças, eu não o teria feito. Ficou bem claro para mim que as ditas criaturas se aninhavam em qualquer peruca. Por outro lado, os estudantes são muitas vezes tratados por "falante" de lingua x ou y não por uma questão de raça (a personagem principal sofre até, em alguns momentos da sua vida de racismo por ser meio inglesa e meio indiana) mas porque, no meio daquela selvajaria e daquela luta insana pela sobrevivência, por estranho que pareça, falar línguas é um elemento crucial. Das línguas que falamos depende o tipo e qualidade de feitiços (incluindo defensivos) a que podemos deitar a mão. Falar árabe não melhor nem pior que falar chinês, hindu ou sânscrito, é só diferente e pode fazer a diferença entre conseguir sair da escola ou morrer lá dentro.

Tinha sido muito mais simples para a autora jogar pelo seguro e dar-nos uma escola inglesa ou francesa ou onde fosse, cheia de alunos ocidentais  ou com uma educação ocidental e que fossem todos muito iguais. A autora arriscou. The Scholomance é a única escola de magia do mundo, para ali vão todos os adolescentes deste planeta com a mínima centelha de magia no sangue. É um caldeirão de culturas, algumas em choque (inclusive no mesmo personagem), de egos, preconceitos e onde cada minuto e cada capacidade intelectual contam para nos livrar da morte. Scholomance é assim e é assim que é descrita.
Muito sinceramente, não vi nada que tenha considerado racista ou propositadamente ofensivo a qualquer nível e acho a maioria dos comentários despropositados. Aliás, dúvido que muitos dos que criticam tenham, de facto, lido o livro - com olhos de ler e sem saltar frases, parágrafos ou capítulos. Parece-me mais um daqueles casos em que é fácil ir com a corrente e, claro, em qualquer circunstância da vida, se queres muito encontrar uma coisa vais vê-la mesmo que ela não esteja lá. 

O melhor mesmo é lerem e julgarem por vós. A mim foi um livro que me fez pensar em alguns temas importantes e até profundos, que me manteve entretida e que me despertou a curiosidade para saber como vai aquele leque de personagens desenvencilhar-se para sair da escola com vida (sinceramente, espero que a autora seja realista e mate uns quantos pelo caminho. Mas ainda a acusam de racismo por ter morto o B e não o C...). Quando sair o próximo vou ler com certeza.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

    Uma das regras mais básicas e que qualquer escritor de YA conhece é que não há assuntos tabu, ou temáticas proibidas. Os livros fazem-nos pensar, mostram-nos mundos que nos fazem pensar o mundo, oferecem-nos a capacidade de analisar criticamente e são fonte inesgotável de conhecimento, não devem, de todo, ser  locais assépticos e ideologicamente higiénicos mesmo que estejamos a falar de YA.
    Tradicionalmente, pensamos que a literatura YA não deve abordar certos temas mas, na verdade, depois gostamos quando as discussões e as chamadas de atenção estão lá porque, não raro, os livros são as únicas fontes de informação que temos, a única forma de nos identificarmos e termos algumas referências em determinadas áreas. Quantos jovens não têm ninguém com quem desabafar os seus medos e problemas senão com os livros?  É por isso que em YA não há temas proibidos. Por muito mau que seja aquilo que queres abordar, 80% dos teus leitores já tiveram contacto com a problemática na vida real e muitos deles vivem na pele muito, mas muito, piores experiências do que as que possas descrever. A única coisa a ter em conta é o modo como se abordam essas temáticas pois, embora todas elas sejam válidas, a forma como as expomos deve adequar-se à idade dos nossos protagonistas e, sobretudo, dos nossos leitores.
    E isto vem a propósito de quê? Na verdade, podia vir por vários motivos, desde o banir de clássicos um pouco por todo o mundo (um dia destes discutimos isso com mais calma) até o facto de actualmente um autor já não poder escrever o que quer, sem maldade ou intenções menos boas sem ser acusado (muitas vezes de forma descabida) de ser um ser humano menos bom e menos correcto que escreve apenas para magoar os outros. Mas… não é nada disso. A reflexão vem a propósito de um YA que li há uns tempos numa leitura conjunta e que me deixou desiludida, frustrada e chocada.

    Devo dizer que o grupo de leitura era constituído maioritariamente por raparigas, todas bem mais novas que eu, algumas com apenas 15 ou 16 anos, e que todas adoraram o livro a ponto de partirem, logo de seguida, para a leitura do 2º volume da trilogia. Este facto também me chocou bastante e deixou-me a pensar, mas já lá vamos…

    Ora, o livro em causa tem, para os que se preocupam com isso, uma cotação 3.96 no Goodreads e os que se lhe seguem têm notas mais altas, todos têm recebido críticas bastante positivas dos leitores. A coisa começa com uma personagem principal que é para lá de pão sem sal, totalmente dependente dos outros, facilmente manipulável  e incapaz de pensar ou tomar decisões por si mesma. Logo aqui começa mal mas pensei que ia haver algum tipo de evolução, acontece que não. Aliás, mal nos apercebemos que a miúda não tem vontade própria, aparece um pai autoritário e abusador que quando uma filha faz algo que lhe desagrada castiga, com requintes de malvadez, a irmã e não a própria. What?!? Não tenho nenhum problema em ler sobre castigo físico sempre que não seja gratuito e que essa descrição violenta leve a algum lado a nível de reflexão, que nos ensine algo ou que, de algum modo, enriqueça a história. Nada disso aconteceu aqui, era exercício de autoridade e violência sem qualquer justificação que se visse ao longo de toda a narrativa e que culmina num triste episódio de perseguição do pai à sua filha e subsequente entrega da miúda para ser violada. Sim, leram bem, sem mais nem menos o pai persegue a filha e acaba por a entregar, de modo perfeitamente consciente, a um crápula seu amigo para que este a viole. E foi aqui que a minha paciência acabou e eu estourei para depois ficar chocada por ter sido a única a não achar aquilo tudo escabroso. Mais a mais, todos estes episódios são totalmente injustificados e o livro passava lindamente sem eles (não ia ficar muito melhor mas....).  E sim, a miúda lá se safa graças a uma poção mágica mas isso não justifica nem perdoa porque, pelo menos para mim (e pelos vistos só para mim), não é normal nem legitimo um pai oferecer a filha para ser violada e, na vida real, infelizmente, não há poções mágicas que nos salvem numa situação daquelas. 

    Sinceramente, não percebi de todo o que raios quis a autora transmitir com aqueles episódios e  tampouco o que era suposto uma jovem adolescente aprender com os mesmos e é ai que reside o problema. Da literatura, de TODA a literatura, devemos conseguir retirar algum tipo de ensinamentos. A literatura YA tem um papel extremamente importante nesse campo pois é, por natureza, direccionada para um público que está a formar a  sua personalidade, a cimentar as suas convicções e crenças e o facto de não haver temas tabu não isenta o autor de certas responsabilidades.

Fiquei chocada e triste com a maneira como as temáticas foram ali despejadas mas mais ainda por não ter havido muito quem contestasse, quem achasse que, mesmo a nível literário e como mero exercício intelectual, nada daquilo fazia sentido e era minimamente normal. Antes pelo contrário, foi aceite ou, em alguns casos, passou ao lado, despercebido e disfarçado no meio de um romance de cordel de 5ª categoria. Foi isso que mais me magoou e mais me fez pensar, se não nos indignamos quando vemos violência e violação gratuitas na literatura,  como se espera que haja empatia para nos insurgirmos contra este tipo de situações na vida real? Alguma daquelas raparigas que leu comigo ficou tão chocada como eu e teve vergonha de dizer? Ou acham normal ter pais autoritários e abusadores? As jovens de hoje, contrariamente ao que eu pensava, acham legítimo submeter-se à vontade de outrém sem estrebuchar?


    Enfim, não sei bem onde queria chegar com isto, foi um desabafo sobre um tema que me anda a incomodar. Bem sei que cada um lê o que quer, que os livros educam mas que em casa há trabalho que tem que ser feito por quem tem essa responsabilidade, que todos temos problemas a sério e que devemos saber relativizar, que na literatura há espaço para tudo (até para o mais escabroso) mas… Os livros não são “só livros” e não contam “só histórias” e mais do que ser incompreensível que um autor YA trate temas delicados como se nada fosse, dói-me que os jovens leiam e não questionem, não se insurjam. A literatura sempre foi incómoda por tornar insubmissos os que lêem, por nos fazer questionar e contestar mas este caso mostrou-me que ou os valores estão a mudar, ou há muito quem leia sem ler.


Podem deixar a vossa opinião na caixa de comentários, por favor, porque gostava realmente de saber a vossa opinião sobre o tema e de discutir isto com alguém e... desculpem qualquer coisinha (sobretudo se a exposição da coisa foi um bocado atabalhoada ou confusa).


terça-feira, 13 de abril de 2021

The Invisible Life of Addie LaRue

 Título: The Invisible Life of Addie LaRue
Autor: V.E. Schwab
Edição: Titan Books para Illumicrate (ed. especial)
Nº de páginas: 454

Sinopse: 

FRANCE, 1714
A desperate woman makes a desperate deal in the dark - a bargain to live forever but be remembered by none.
So begins the invisible life of Addie LaRue, shadow muse to artists throughout history, forgotten friend, confidante and lover, slipping away with the morning light. Addie passes through lives, desperate only to leave a trace of herself. Until the day she walks back into a small bookshop in Manhattan and meets Henry, who remembers her.
After 300 years Addie's life is restarting, but the devil never plays fair. As Henry and Addie's lives start to intertwine, they must face the consequences of the decisions they've made and the prices to be paid.
The Invisible Life of Addie LaRue is a dazzling adventure across centuries and continents, across history and art, about a young woman learning how far she will go to leave her mark on the world.



Opinião:

Se já foram ver a página de instagram, sabem que tenho sentimentos muito âmbiguos em relação a este livro. Por um lado adorei, é das narrativas mais bonitas que tive o prazer de ler em muito, muito tempo. Por outro lado, custou-me horrores a terminar. Encalhei pouco depois das 200 páginas lidas e vi-me e desejei-me para conseguir ultrapassar a coisa. Vou tentar explicar-me o melhor que puder para que possam perceber como me sinto.

Com este livro a autora atingiu um nível de qualidade de escrita que nunca lhe tinha visto. A história é narrada de forma poética e suave e muito, muito doce apesar de muitos dos temas abordados não serem propriamente fofinhos. Esta escrita é envolvente e conquista-nos. Faz-nos laços profundos com a personagem da Addie porque acredito que descreve momentos e sentimentos vividos pela grande maioria dos leitores, toda a gente se vai poder identificar com aquilo que ela vive e sentem em algum momento do livro. Além disso, as coisas descritas com palavras bonitas tocam-nos mais. E foi assim que a V. E. Schwab me conquistou logo nas primeiras páginas, com uma linguagem maravilhosamente doce e poética. 

Onde é que está então o problema? Bem, para começar, este estilo, a voz do livro, imprime um ritmo mais lento à narrativa. Não me incomodou o facto de ser bastante descritiva porque a descrição era boa, o que me incomodou foi a lentidão, a falta de acção. 
Normalmente esta autora escreve histórias com mais aventura e acção e a permissa tinha tudo para envolver algo do género afinal são 300 anos de História com episódios super importantes e artistas (com quem supostamente a Addie se cruza e os quais influencia) super interessantes em todas as áreas. Pensei que ia assistir ao envolvimento dela com esses artistas ou em momentos históricos marcantes mas a autora não optou por essa via. Talvez tenha sido esta expectativa, juntamente com todo o sururu que se criou em torno do livro, mesmo antes de este ter saído, que me "estragou" um pouco a experiência. Porque a verdade é que nem eu sei porque não posso dar 5 estrelas ou porque me custou tanto a ler uma vez que é um livro verdadeiramente bonito e que me tocou, que me deixou a pensar e me fez encarar certas coisas de um modo diferente. 

Basicamente seguimos a Addie pelas ruas do mundo - gosto do trocadilho, o nome dela é LaRue, "a rua" em francês, e é precisamente nas ruas que ela passa a viver depois do acordo que faz, tornando-se parte delas -, sempre lá mas sem ser notada e vemos como sofre por ser esquecida a toda a hora e por não ter amor na sua vida. Todos buscamos amor e há-o de vários tipos e este também é um livro sobre isso, o amor do pai que faz tudo pela sua filha, o amor de uma amizade simples e descomplicado, o amor de alguém que nos prepara para a vida mas nos tenta proteger dela e, na personagem de Estele o amor por si próprio levado às últimas consequências. E agora pergunto, porque raios é que a Addie se centra apenas em encontrar um amor romântico e não apenas amor? Achei este aspecto um pouco redutor.

Nas últimas 150 páginas, mais coisa menos coisa, a magia voltou e a autora conseguiu não só reconquistar-me como pôr-me a chorar como uma Madalena. Afinal, este é um livro sobre coisas tão simples como a constatação de que a vida é sempre um momento mais curta do que queriamos e de que, além de todos termos que ir quando chega a nossa hora, todos perdemos aqueles que amamos pelo caminho. É um livro sobre perda, sobre a necessidade que o ser humano tem de deixar a sua marca no mundo e nos outros, de não desparecer na poeira da História; é um livro sobre a necessidade de não deixar nada por dizer e a importância de dizermos exactamente o que desejamos. 

Resumindo, não partam para esta leitura a pensar nos demais livros da autora porque não é nada como os restantes. Aliás, não é a normal narrativa de fantasia. Vão sem expectativas e sabendo que o ritmo é lento mas que a escrita é tão maravilhosa que acabará por vos conquistar rapidamente e, sobretudo, vão sabendo que vos vai tocar, que em algum momento não vão poder fugir às vossas emoções e vão derramar umas lágrimas não apenas pelos personagens mas, sobretudo, por vós e pelas vossas vidas.