
Autor: Filipe Faria
Edição: Ed. Presença
Colecção: Via Láctea
Nº de páginas: 603
"Tomados pelo desânimo, os companheiros desta aventura enfrentam agora o seu maior desafio e o Oblívio ameaça a própria existência, da mesma forma que parece ser a sua única salvação. Na mais negra hora de Allaryia, a Sombra ergue-se triunfante, mas nem tudo o que parece é, e ainda falta a´O Flagelo jogar a sua última cartada... Por fim, o tão aguardado sétimo e último volume das Crónicas de Allaryia, o final da épica saga que cativou milhares de leitores e que assinala um marco no fantástico português." Rendi-me às Crónicas de Allaryia já há uns anos, aquando do lançamento do primeiro volume e se os dois últimos livros tinham deixado um certo desapontamento, este capitulo final veio, de certa forma, tratar da remissão do autor a este nível. Oblívio reaproxima-se da essência inicial das Crónicas, levando-nos a querer ler página atrás de página em busca de respostas e cativando-nos como só os primeiros volumes foram capazes. Vou tentar dar a minha opinião numa perspectiva mais analítica e não fazer spoilers (não quero estragar as leituras de ninguém).
Uma das "novidades" que á para mim um ponto positivo prende-se com o facto de, desta vez, a narrativa não se centrar num personagem em concreto. Se os primeiros volumes giraram em torno de Aewyre e os últimos em Quenestil, neste livro temos a narrativa melhor distribuída entre os vários companheiros, dando ao leitor uma dimensão mais ampla da estória, das dificuldades e peripécias ultrapassadas por cada um e dos sentimentos de cada personagem. Nesta nova focagem a nível narrativo, o autor não esquece Kror e o seu sentido de vingança, e Seltor.
Na verdade, este foi um dos pontos que mais interesse despertou em mim. Em muitos momentos a narrativa foca-se em Seltor, nos seus pensamentos e ambições, nos seus planos e desejos e... foi toda uma surpresa. A personagem cresce aos nossos olhos, ganhando uma nova dimensão e mostrando-nos que, se calhar, as coisas não são como nos pareciam no início - talvez Seltor não seja aquele ser maléfico e destrutivo que conhecemos durante toda a saga. Esta nova abordagem ao anti-herói e as revelações que nos são feitas despertam no leitor sentimentos contraditórios e uma curiosidade imensa.
Ainda assim, não há para mim personagem que chegue aos calcanhares do pequeno Taislin que, com o seu bom humor caracteristico, nunca deixa os companheiros desanimar, imprimindo-lhes esperança e alegria até nas horas mais negras.
Contudo, se a nível do núcleo central de personagens o desenrolar da estória satisfaz, o mesmo já não se pode afirmar quando nos referimos aos personagens secundários. Muitos destes desaparecem totalmente sem que nos seja explicado o que de facto lhes aconteceu, outros fazem aparições estranhas e de pouca monta que pouco ou nada contribuem para a trama. Em minha opinião, havia a este nível matéria para explorar. Perde-se aqui mas ganha-se nas descrições das paisagens e locais por onde os companheiros vão passando. Adorei conhecer a Noite Ínfera e os Fiordes ganham muito mais cor e interesse com o despertar das Vagas de Fogo que levam o seu povo a sair da letargia.
No que respeita à escrita propriamente dita, continuamos com uma linguagem muito cuidada, com algum humor e, sobretudo, com descrições muito boas e ricamente detalhadas tanto ao nível da geografia como da acção. Ainda assim, devo dizer que a descrição da última batalha me pareceu demasiado longa. Arrasta-se por demasiadas páginas e se há momentos em que quase entramos no livro e nos vemos no meio de toda aquela confusão, também há alturas em que damos por nós a perguntar quando acabará tudo aquilo. Suponho que o mal possa ser meu, os leitores que gostarem muito de ver este lado mais bélico descrito ao pormenor com certeza vão discordar de mim.
Por último, aquilo que todos querem saber... o fim.
Foi um final satisfatório na medida do possível. Satisfaz mas podia ser melhor, ou talvez, mais definitivo. Sim, penso que talvez este seja mesmo o problema, é pouco definitivo. É algo entre o "viveram felizes" e o "ainda não foi desta que isto acabou"; ou seja, parece que vai ser um final típico em que tudo acaba bem mas o leitor fica ainda assim com algumas questões sem resposta e, como se não bastasse, no último parágrafo juntam-se todas as nossas dúvidas e surge uma esperança de resposta futura podendo o leitor prever novas aventuras em Allaryia. Em resumo: Gostei muito, gostei quase tanto como dos primeiros volumes destas Crónicas. Adorei o novo rumo que o autor conseguiu dar a alguns temas e personagens e o final não desagradou por completo. Ainda assim, fica muito por saber...
7,5/10