"Por um lado assusta-me a hipótese de perder o pouco que tenho de ti, mas pelo outro tenho medo de um dia mais tarde me arrepender amargamente de não ter sido mais corajoso, de não ter tentado quando era altura disso. Medo de acordar um dia e perceber que é tarde de mais, que és casada e que agora tens uma família, medo de nos afastarmos ao ponto que a nossa relação seja apenas uma sombra do que foi. Medo de olhar para trás e lembrar-me de quando éramos crianças e a inocência nos dominava e depois constatar que esse tempo não volta pois a vida tem sentido único e não espera.
Como nós éramos felizes, sem nos apercebermos da nossa própria efemeridade, mas hoje a consciência impera e o calculismo das nossas atitudes destruiu a naturalidade da nossa relação. Chegava a tua casa e mal abria a porta do prédio sentia a clássica dor na barriga e depois escadas de tormento até te ver e então nada mais existia, só tu meu amor, tu que eu hoje recordo nas memórias dos anos que passaram. Que nos aconteceu, por que razão não me olhas como dantes, por que razão já não consigo ver o mundo nos teus olhos? Pergunto-me acerca disto sempre que ocasionalmente te vejo e nessa altura penso se seria melhor nunca nos termos conhecido. Mas chego sempre á conclusão que sem ti não seria o que sou e o meu eu não existiria sem um tu. Que nos aconteceu? o tempo e a distância conjuraram-se para nos separar ainda mais e não sei, não sei que hei de fazer para recuperarmos a intimidade que havia entre nós.
A tua presença absorve a minha concentração e penso somente em ti, nesses momentos o meu pensamento mora em ti e tu não notas, não fazes um esforço para notar, passo por ti e tu não me agarras não me impedes que me afaste, não me mantens junto a ti, e volto então a passar por ti e tu olhas-me nos olhos e o tempo pára durante uma eternidade e fica-me gravado na memória o teu olhar melancólico, olhar que diz tudo, que me mostra a mim mesmo tal como eu sou, esse olhar que tudo muda, que faz os rios nascerem no mar e o Sol nascer a oeste, mostra-me também como tu és. E agora sim todo o nosso mundo cabe no teu olhar, este mundo meu e teu que só nós compreendemos.
Volto a olhar para ti, o Sol doira a tua pele e tu queixaste que está frio e vais para dentro, fico a ver-te ir, afastas-te numa corridinha rápida para nunca mais te ver."
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Passatempo - texto vencedor
Tal como tínhamos anunciado aquando do início do passatempo Nicholas Sparks - A Melodia do Adeus, publicamos o texto vencedor aqui no nosso cantinho. Foi escrito pelo Gustavo Galveias de Vendas Novas e, segundo o autor, é um tanto ou quanto pessoal, mas ainda assim é pleno de significado.
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