quinta-feira, 9 de setembro de 2021

A Deadly Education - The Scholomance #1

Scholomance, mais que uma escola de magia, é uma obra de engenharia e poder que paira no vácuo e onde cada segundo é uma luta pela sobrevivência. Ali não há professores, a escola distribui as disciplinas e os trabalhos seguindo regras próprias que ninguém conhece e poucos conseguem sequer adivinhar; o perigo vem de, literalmente, todo o lado - a própria escola quer aniquilar todos os que nela residem; as alianças fazem-se em favor da raça ou da proveniência de cada um ou, caso não se faça parte de uma família pertencente a um enclave importante, em função das nossas capacidades mágicas e de sobrevivência. A cereja no topo do bolo? Para conseguir concluir os estudos com sucesso, temos que conseguir sair da escola travando uma luta desigual com um sem número de monstros e criaturas esfomeadas para quem não passamos de um belo petisco.

O que vos parece? Quase o mesmo que o meu secundário. E, tal como me aconteceu naquela altura, os alunos estão ali porque não têm outra hipótese. No caso deles, fugir ao momento em que a escola os teletransporta para o seu interior, lutar por ficar em casa, é uma opção mais mortal que enfrentar o destino na escola.

Confesso que nunca tinha lido Naomi Novik (shame on me...) e, inicialmente, o que me fez continuar foi a voz da personagem principal. El, é irónica e sarcástica de uma maneira deliciosa e que me prendeu. Fez-me lembrar alguém de quem gosto muito. Depois, mais que as aventuras e os mistérios dos personagens foi a escola em si que me fez virar as páginas. Querer perceber o funcionamento de tudo, a engenharia e a filosofia da escola, o sistema de magia, o porquê de certas alianças, de alguns comportamentos, a magia de cada um e como funciona, de onde saem os monstros... É, de facto um "mundo" complexo em que a imaginação da autora comanda completamente e onde nada é realmente o que parece. 

O único ponto negativo e que realmente me travava o ritmo eram as explicações. São todas feitas pela El, já que o livro é narrado na primeira pessoa e são necessárias, é um facto mas... às vezes não era ali, não era aquele o momento. Estamos a meio de uma cena de acção, uma fuga, o que eu quero saber é por onde vão os personagens, se simplesmente fogem ou se usam algum truque ou subterfugio não é, de todo, o momento para me explicarem que personagem A tem daddy issues e que, por isso, talvez tenha havido uma certa dose de injustiça há 100 páginas atrás. Enfim, há explicações que têm que ser feitas para que possamos conhecer melhor s personagens e todo o entorno mas nem sempre são feitas no momento mais pertinente.

Enquanto lia, fui-me deparando com comentários e opiniões que acusavam a autora de racismo e de xenofobia e afins por, por exemplo, a El se referir a alguns aluno como "Arabic Speaker" ou "Chinese speaker" ou por dizer que um determinado personagem tinha tido que cortar o cabelo rente como todos os outros porque uns monstrinhos quaisquer (não me lembro o nome, eles são mesmo muitos, um verdadeiro exército!!) terem feito um ninho nas tranças afro dela como o faziam sempre que alguém tinha o cabelo um bocadinho mais comprido. Ora... a autora desculpou-se pelo episódio das tranças, eu não o teria feito. Ficou bem claro para mim que as ditas criaturas se aninhavam em qualquer peruca. Por outro lado, os estudantes são muitas vezes tratados por "falante" de lingua x ou y não por uma questão de raça (a personagem principal sofre até, em alguns momentos da sua vida de racismo por ser meio inglesa e meio indiana) mas porque, no meio daquela selvajaria e daquela luta insana pela sobrevivência, por estranho que pareça, falar línguas é um elemento crucial. Das línguas que falamos depende o tipo e qualidade de feitiços (incluindo defensivos) a que podemos deitar a mão. Falar árabe não melhor nem pior que falar chinês, hindu ou sânscrito, é só diferente e pode fazer a diferença entre conseguir sair da escola ou morrer lá dentro.

Tinha sido muito mais simples para a autora jogar pelo seguro e dar-nos uma escola inglesa ou francesa ou onde fosse, cheia de alunos ocidentais  ou com uma educação ocidental e que fossem todos muito iguais. A autora arriscou. The Scholomance é a única escola de magia do mundo, para ali vão todos os adolescentes deste planeta com a mínima centelha de magia no sangue. É um caldeirão de culturas, algumas em choque (inclusive no mesmo personagem), de egos, preconceitos e onde cada minuto e cada capacidade intelectual contam para nos livrar da morte. Scholomance é assim e é assim que é descrita.
Muito sinceramente, não vi nada que tenha considerado racista ou propositadamente ofensivo a qualquer nível e acho a maioria dos comentários despropositados. Aliás, dúvido que muitos dos que criticam tenham, de facto, lido o livro - com olhos de ler e sem saltar frases, parágrafos ou capítulos. Parece-me mais um daqueles casos em que é fácil ir com a corrente e, claro, em qualquer circunstância da vida, se queres muito encontrar uma coisa vais vê-la mesmo que ela não esteja lá. 

O melhor mesmo é lerem e julgarem por vós. A mim foi um livro que me fez pensar em alguns temas importantes e até profundos, que me manteve entretida e que me despertou a curiosidade para saber como vai aquele leque de personagens desenvencilhar-se para sair da escola com vida (sinceramente, espero que a autora seja realista e mate uns quantos pelo caminho. Mas ainda a acusam de racismo por ter morto o B e não o C...). Quando sair o próximo vou ler com certeza.

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