Autor: John Wyndham
Edição: Ed. Presença
Colecção Lado B
Nº de páginas: 156
"A família Grove já se tinha confrontado com a amiga imaginária da pequena Polly, a filha mais nova. Tinha sido um período atribulado mas, assim como viera, fora esquecido. Porém, quando já não seria de esperar, é Mathew que aos onze anos começa a ter estranhos diálogos com um personagem aparentemente imaginário. A princípio, os pais tentam não se preocupar, mas torna-se evidente que, longe de ser imaginário, aquele «amigo» possui características claramente alienígenas. A situação acaba por se descontrolar e Mathew fica exposto à atenção dos meios de comunicação e, mesmo, dos sombrios lobbies governamentais"
Chocky é um pequeno grande livro, uma verdadeira estória de ficção cientifica "à moda antiga" como já há muito não tinha o prazer de ler. Tudo começa quando o pai de Mathew ouve o filho travar uma acalorada discussão consigo mesmo, quando comenta o facto com a mulher ambos temem a "presença" de um amigo imaginário não apenas porque o rapaz já tem 11 anos mas, sobretudo, porque a irmã mais nova de Mathew teve um amigo imaginário que deu muitas dores de cabeça à família.
Pela voz do pai de Mathew o autor guia-nos pelo dia-a-dia da família e pelas dificuldades com que os seus membros se deparam sem que em momento algum deixemos de nos interessar pela estória e de nos preocupar realmente com a situação vivida por Mathew. O jovem, tal como os que o rodeiam, não compreende o porquê de ouvir aquela voz dentro da sua cabeça, uma voz que nem sequer quando está doente o deixa dormir e que o leva a adoptar comportamentos pouco usuais em crianças da sua idade - como começar a usar novas técnicas nas aulas de física ou o código binário nas de matemática. As diferentes reacções ao problema e a descrição do sofrimento de toda a família são um dos pontos altos desta narrativa pois conseguem demonstrar-nos com imenso realismo o que alguém poderia ter que enfrentar numa situação semelhante: a irmã mais nova fica cheia de ciúmes porque Mathew lhe rouba o protagonismo em casa; a mãe recusa-se a aceitar que algo exterior influência o seu filho, não abre mão da ideia do amigo imaginário; na escola dizem que o jovem está louco; e, por último, o pai, assustado com a ideia de que um ser estranho possa entrar na cabeça do seu filho, enfrenta a situação de forma mais inteligente e com uma mente muito aberta que lhe permitirá não apenas ajudar Mathew mas ouvir alguns dos segredos mais bem guardados do mundo. Apesar de todas as dificuldades vividas e das lutas travadas a ternura e a humanidade dos personagens são uma constante.
Outro dos pontos que mais chamam a atenção neste pequeno livro é a caracterização dos extraterrestres que nos são apresentados como seres de uma inteligência muito superior à dos humanos, jogando-se com a possibilidade de algumas das maiores invenções e descobertas da humanidade terem origem extraterrestre e não humana. Claro que hoje esta ideia não é nova mas na década de 60, aquando da escrita desta estória, era uma visão claramente revolucionária e modernista. Aliás, todo o argumento é carregado de originalidade e surpresas, muito coerente e a narrativa mantém um ritmo constante que facilita muito a leitura. O final não deixa grande espaço à imaginação, é realmente um final efectivo mas isso não retira em nada o encanto ao livro.
Recomendo a todos os fãs de ficção científica e aos que queiram desfrutar de bons momentos de leitura com uma estória com a graça da F.C original.
7/10
Podem ler um execerto aqui.
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