quinta-feira, 18 de julho de 2013

Justiça de Kushiel

Título: A Justiça de Kushiel
Série/Saga: Kushiel's Legacy (Kushiel,#6)
Autor: Jacqueline Carey
Tradução: Teresa Martins de Carvalho
Edição: Saída de Emergência
Nº de páginas: 384
ISBN: 9789896375263


"Kushiel barra o caminho de Phèdre, severo e ameaçador. Numa mão, segura uma chave de bronze, e na outra… um diamante, enfiado num cordão de veludo. Phèdre nó Delaunay, a eleita dos deuses para suportar um indizível sofrimento com infinita compaixão é a vítima perfeita, a "oferenda sem igual" cuja profanação assegurará a ascendência de Angra Mainyu, O Senhor das Trevas. A morrer, pensa Phèdre, será às mãos do amor. Mas o amor é uma força assombrosa, e amor há que desafia todas as probabilidades…
E o Amor reina em força neste volume pungente, a encerrar a saga de Kushiel. O amor de Joscelin por Phèdre, seu Companheiro Perfeito que tudo dá por ela. O amor de Phèdre pela sua rainha, que quer Imriel de la Courcel de volta, o amor de Phèdre por Hyacinthe, seu único e verdadeiro amigo, por toda a eternidade condenado ao cativeiro como Senhor do Estreito. O amor de Phèdre por Imriel, apenas amor simples e destituído de adornos. O Lungo Drom de Phèdre e Joscelin continua, por um lendário rio abaixo até uma terra esquecida de todo o mundo. E até um poder tão imenso que ninguém ousa proferir o seu nome.
Ousará Phèdre? Ousará Phèdre receber o Nome de Deus e com ele obrigar a que libertem Hyacinthe? "Para receber o Seu Nome", instruiu o místico yeshuíta Eleazar ben Enokh, "d'Ele nos deveremos acercar em perfeita confiança e amor, do nosso ser fazer um recetáculo onde o nosso ser não esteja." Logrará Phèdre fazê-lo?"


Quando nos propomos, e nos dedicamos a isso, a escrever uma opinião sobre os livros que vamos lendo há sempre alguns textos que se complicam. Seja por falta de inspiração, porque não gostámos muito do livro, porque não queremos cair em spoilers... Os motivos são variados. Esta, para mim, é uma dessas opiniões. É tão difícil, tão complicado que já li o livro em Maio e ainda não consegui escrever duas linhas sobre o mesmo!! Acontece que gostei tanto do livro, aliás, gostei tanto da trilogia toda e dos seus personagens que até tenho medo de estragar. Esta é uma daquelas trilogias que primeiro se estranha e depois se entranha e apesar do leitor ter uma enorme vontade de saber como é que as coisas terminam, o final acaba por ser agridoce. Agora, depois de uma espera que parecia interminável,  acabou, já não há mais (até há :) mas é só em inglês!!) e não há nada que possamos fazer para o evitar. 

No volume anterior - O Avatar de Kushiel - (da edição portuguesa, claro está, e que corresponde à segunda metade do terceiro volume na versão original) Phédrè estava numa situação complicada e , apesar de sabermos que de algum modo os personagens se iam conseguir livrar de todos os males que os rodeavam, parecia não haver muita esperança. As coisas acabam por se resolver até bastante rápido (não vou dizer como... leiam...) mas liberdade física não é sinónimo de liberdade de espírito e, à boa maneira de Carey, todas as conquistas têm o seu preço. Depois da verdadeira descida ao inferno pessoal de cada um num local em que toda a luz esperança lhes são arrancados à força, é preciso sarar e perdoar mas o caminho é longo e pejado de dificuldades e cada um tem que o trilhar sozinho. A viagem física empreendida por Phédrè, Joscelin e Imriel acaba por ser um espelho da viagem interior que os sobreviventes de Drujan terão que fazer afim de conseguir perdoar-se a si e aos outros,  de conseguir voltar a amar mas, acima de tudo, aceitarem-se tal como são aceitando aquilo a que foram submetidos.

Embora com alguns aspecto um pouco "à la" Indiana Jones dos quais não estava à espera, esta é uma viagem que nos marca, nos revolta e nos enternece, levando-nos de Drujan até aos territórios mais recônditos e esquecidos do mundo criado por Carey. A aventura e o descobrir de novas culturas e lugares, servindo de atenuador relativamente aos aspectos mais negros e dolorosos, aos pesadelos da luta interior  travada a cada passo. Ao longo da jornada, a paz vai sendo alcançada à medida que cada um dos personagens aceita as modificações sofridas por si e pelos demais e abraça com renovada alegria o preceito do abençoado Elua "Ama à tua vontade". Mas a demanda dos três personagens em busca do nome de deus não é destituída de perigos, invejas e ameaças e o amor assume muitas formas... Por vezes salva-nos, outras condena-nos. É este o cerne da narrativa, o amor e as várias formas que este pode assumir, o modo como o amor e a dor muitas vezes e andam de mãos dadas. É uma história de gente, de sentimentos e não uma mera ficção sobre as intrigas de uma corte num país em crise. 

No final, apesar de tudo se resolver muito ao agrado do leitor (sim, a autora não foi muito má neste final), todas as peças encaixam e todas aquelas pequenas pontas que pareciam soltas e esquecidas são atadas no seu devido lugar, a teia da intriga e do amor, da amizade, do ódio e do perdão, completa e revelada em toda a sua complexidade. Claro que, à boa maneira da autora, a curiosidade relativamente ao futuro de alguns personagens é aguçada ao extremo. Ainda assim, temos sempre a possibilidade de ler a trilogia seguinte (eu já estou a ler. É mais forte que eu, não consegui resistir...) e ninguém pode negar que Jacqueline Carey encerra com mestria uma das melhores trilogias publicadas em Portugal. 

Adorei. Vai directamente para as melhores leituras do ano.

9/10

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