quinta-feira, 25 de março de 2010

O Braço esquerdo de Deus

Título: O Braço esquerdo de Deus
Autor: Paul Hoffman
Tradução: Mário Dias Correia
Edição: Porto Editora
Nº de páginas: 396
"Escutem. O Santuário dos Redentores, em Shotover Scarp, é uma mentira infame, lá ninguém encontra santuário e muito menos redenção.
O Santuário dos Redentores é um lugar vasto e isolado - um lugar sem alegria e esperança. A maior parte dos seus ocupantes foi levada para lá em criança e submetida durante anos ao brutal regime dos Redentores, cuja crueldade e a violência têm apenas um objectivo - servir a Única e Verdadeira Fé. Num dos lúgubres e labirínticos corredores do Santuário, um jovem acólito ousa violar as regras e espreitar por uma janela. Terá talvez uns catorze ou quinze anos, não sabe ao certo, ninguém sabe, e há muito que esqueceu o seu nome verdadeiro - agora chamam-lhe Cale. É um rapaz estranho e reservado, engenhoso e fascinante. Está tão habituado à crueldade que parece imune a ela, até ao dia em que abre a porta errada e testemunha um acto tão terrível que a única solução possível é a fuga.
Mas os Redentores querem Cale a qualquer preço... não por causa do segredo que ele sabe mas por outro de que ele nem sequer desconfia."
Já terminei a leitura deste livro há uns dias, embora não me tenha sido possível publicar a minha opinião antes, mas não sei ao certo o que de mais importante me ficou no final do processo de leitura. As críticas que tenho lido confirmam o meu sentir, não é um livro que reúna consenso, uns adoraram, outros sentiram-se defraudados. Quanto a mim, penso que esperarei pela edição do segundo volume da trilogia para poder dizer se, de facto, me agradou ou a decepção suplanta o prazer que, em bastantes momentos me proporcionou esta leitura.
Devo reconhecer que gostei muito do modo como o autor escreve, das analogias usadas pelos seus personagens. Alguns destes conseguiram conquistar-me, principalmente IdrisPukke com o seu particular sentido de humor e modo de encarar a vida e as suas adversidades. O mundo criado, vincadamente medieval, agradou-me bastante e fez-me lembrar simultâneamente a Inglaterra e os ducados "italianos" da Idade Média. Os governantes faustosos recorrendo a políticas que facilmente poderíamos atribuir a Maquiavel para unificar e expandir os seus territórios; a riqueza das classes altas contrastando com a podridão das classes baixas; a ignorância geral quanto aquilo que se passa para lá dos muros do Santuário à qual se opõe a ignorância dos jovens ali retidos que desconhecem por completo a realidade do mundo que rodeia a prisão em que vivem.
Numa fase inicial, este é um livro que promete bastante, toda a vida dentro do Santuário, a envolvência de fanatismo religioso que marca os Redentores e alguns dos seus acólitos, as artimanhas usadas pelos acólitos para conseguirem sobreviver num mundo em que a violência gratuita e a brutalidade são uma garantia e uma constante, são aspectos que nos deixam agarrados às páginas, deixando-nos curiosos, transmitindo-nos repulsa, desejo de vingança e uma enorme expectativa naquilo que será a vida de Cale depois da descoberta que fez ao abrir a porta certa no momento errado. A sua fuga deixa-nos em sobressalto, temendo que algo possa correr mal a qualquer momento mas sempre esperando que o jovem seja bem sucedido.
Contudo, numa fase pós-fuga a intriga política tem início e as perguntas que esperávamos ver respondidas não o são de todo, a narrativa toma um rumo que eu não esperava e que não sei se me agradou de todo, transformando o final em algo previsível mas simultâneamente confuso que não agrada e com detalhes que parecem forçados. Não obtive resposta a muitas das minhas questões - embora tenha esperança de que tal aconteça num próximo volume da trilogia - e há algumas partes da estória que não consigo acabar de compreender para que serviram ou poderão servir no futuro.
Apesar dos pontos negativos, foi uma leitura que me deu bastante prazer e que, sei, pode agradar muito a vários amantes do fantástico. Espero que editem em breve o próximo volume para poder cimentar de uma vez a minha opinião acerca de Cale e das suas desventuras.
6/10

1 comentário:

Vitor Frazão disse...

Gostei. Um livro cru e sujo, pintado em tons de cinzento.

Só é pena que a acção se tenha centrado tanto em redor do anti-herói Cale, mas pode ser que nos próximos volumes isso mude...

Pessoalmente, achei que a cultura apresentada tinha uma aura mais Clássica do Médio Oriente do que Medieval Europeia. Excepto na questão da religião, aí tenho que concordar.

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