Autor: Suzanne Collins
Edição: Ed. Presença
Colecção: Via Láctea
Nº de páginas: 280
Katniss Everdeen não devia estar viva. Mas, apesar dos planos do Capitólio, a rapariga em chamas sobreviveu e está agora junto de Gale, da mãe e da irmã no Distrito 13. Recuperando pouco a pouco dos ferimentos que sofreu na arena, Katniss procura adaptar-se à nova realidade: Peeta foi capturado pelo Capitólio, o Distrito 12 já não existe e a revolução está prestes a começar. Agora estão todos a contar com Katniss para continuar a desempenhar o seu papel, assumir a responsabilidade por inúmeras vidas e mudar para sempre o destino de Panem - independentemente de tudo aquilo que terá de sacrificar…
Depois de tantas questões terem ficado em aberto no final de Em Chamas foi com alguma impaciência que esperei por este volume final de Os Jogos da Fome.
Salva numa situação limite e algo anómala, Katniss acorda no Distrito 13, aquele que todos julgavam destruido há vários anos e onde, afinal, a vida decorre de uma forma algo mais normal do que seria de imaginar. Os Rebeldes declararam finalmente guerra aberta ao Capitólio e ao seu terrível presidente mas, de início, as coisas não parecem correr como o esperado. Katniss, a cara da revolta, está hospitalizada e mentalmente fragilizada e, mesmo quando se começam a notar melhoras físicas, a jovem está reticente em aceitar o papel que a presidente dos rebeldes lhe reservou.
Na verdade, resumi acima, sem querer, os pontos mais fortes do livro. Por um lado, Katnniss é-nos apresentada no momento de maior vulnerabilidade até à data. A sua força continua lá mas a jovem é constantemente assaltada por dúvidas que a deixam aterrorizada, dúvidas relacionadas com o passado, com aquilo que fez, com o que poderá fazer e sobretudo com aquilo que querem que ela faça. E este é outro ponto fulcral do qual o leitor cedo se dá conta, se o Capitólio a usou mais que uma vez como imagem de marca e tentou manipulá-la constantemente, a intenção dos Rebeldes não é nada diferente. Aquilo que se espera da personagem principal é precisamente o que os seus inimigos esperavam, que colabore, sorria para as câmaras e obedeça sem questionar. Mas todos sabemos que Katniss é incapaz de fazer tais coisas...
Achei interessante a forma como a guerra foi conduzida, pelo modo realista como a autora o conseguiu fazer mostrando-nos que as tácticas e técnicas usadas não são muito diferentes seja qual for o "nosso" lado numa guerra. Os comportamentos que eram recriminados quando usados pelo Capitólio são utilizados sem qualquer tipo de problema moral ou ético por parte dos Rebeldes, desde as emissões televisivas, estudadas ao pormenor, ao massacre de inocentes sem justificação aparente. Afinal os vícios da sociedade marcam-nos a todos por igual... A moralidade, a ética e os valores humanos como a lealdade e a amizade, além do amor, obviamente, estão em grande evidência neste volume.
Devo referir ainda o evoluir das relações entre os diversos personagens e o crescimento psicológico de alguns, como Primm que, longe da apagada menina meiga e protegida dos livros anteriores, se revela uma jovem ponderada, corajosa e muito mais independente e segura de si.
Por último, o fim. Embora alguns o pensem surpreendente, eu apenas o penso realista. Suzanne Collins, ainda que escrevendo uma trilogia dirigida a um público mais young adult, não poupou os seu leitores. É um final duro mas pleno de redenção e esperança como o é o final de qualquer conflito bélico. Não fomos poupados à morte injusta, ao sofrimento atroz nem à traição ou às escolhas difíceis; os sobreviventes ficam marcados para o resto das suas vidas e o sentimento de injustiça acaba estranhamente por se misturar com a alegria da vitória deixando-nos tristemente satisfeitos com o desfecho.
E não vou dizer nada quanto às escolhas amorosas da Katniss... :)
Recomendo, sobretudo a quem leu os volumes anteriores.
7/10
Podem ler as opiniões sobre Jogos da Fome e Em Chamas carregando nas letras a verde. Para ler um excerto deste livro basta clicar aqui.
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