Autor: George R. R. Martin
Tradução: Jorge Candeias
Edição: Saída de Emergência
Depois de uma longa espera, apesar de ser sempre óptimo voltar a Westeros, o certo é que este volume foi, em certa medida, uma desilusão. Não uma completa desilusão, afinal estamos a falar de Martin, mas depois de tanta expectativa, de tamanha espera e de tanto se ter falado sobre este novo volume das Crónicas de Gelo e de Fogo, esperava mais. Mas comecemos pelo principio...
A Dança dos Dragões é cronologicamente paralelo ao Festim dos Corvos e Mar de Ferro e aqui pode começar a confusão. Apesar de o autor nos avisar logo de início deste pormenor a verdade é que demoramos um bocadinho a assimilar a coisa. Supostamente, já vamos mais avançados na narrativa e, ainda que este volume nos traga personagens mais ausentes nos dois livros anteriores (da edição portuguesa), facilmente nos perdemos e esquecemos o aviso.
E uma vez que comecei por apontar um defeito talvez seja melhor continuar na mesma linha. A visita guiada às Cidades Livres é interessantissima em vários pontos mas longe de desvendar mistérios, adensa-os enquanto dá ao leitor a ideia de que esta mudança de cenário, ainda que necessária no desenrolar da estória e na introdução de novos personagens, serve sobretudo para "encher choriços". É frustrante o tempo que o autor leva a narrar determinados acontecimentos, nomeadamente nos capítulos dedicados a Daenerys, para depois a narrativa não avançar. Quando pensamos que uma decisão vai ser tomada, que se vai marcar uma posição e movimentar as peças no tabuleiro... não acontece nada. Este é o maior ponto negativo do livro e por ele me vou ficar, embora deva dizer que o ritmo lento e a sensação de não haver qualquer avanço marcou de forma definitiva a leitura.
Relativamente aos pontos positivos, fico feliz por poder afirmar que eles são mais que os negativos. Entre os mesmos destaco o novo alento dado a três personagens: Bran, Melisandre e Cheirete. Bran, que estava longe de ser uma das minhas personagens preferidas, renasceu daqueles seus sonhos estranhos e revela-se como alguém que pode vir a ser determinante no desenvolvimento da narrativa. Como não podia deixar de ser, esta nova faceta de Bran trás consigo inumeros mistérios relativamente aos quais temos, de momento, muito pouca luz.
Melisandre, também na minha lista negra, é aqui apresentada de uma forma mais humana, alguém que tem sonhos e aspirações e que pode errar, que tem medos como toda a gente. É-lhe conferida uma aura algo mais humana embora não menos assustadora. O Cheirete, por sua vez, é a grande personagem-revelação do livro. Absolutamente brilhante a reviravolta que Martin deu transformando alguém pura e simplesmente estúpido e arrogante num ser abjecto, desprezivel e sem um pingo de amor-próprio que chega a dar-nos pena enquanto nos dá volta ao estômago.
Não posso deixar de referir também os acontecimentos na Muralha. Jon está tacituro, melancólico e, em minha opinião, tal deve anteceder algum acontecimento importante. O novo comandante da Patrulha da Noite está em guerra consigo mesmo e o turbilhão de sentimentos dá-lhe outra intensidade mas também lhe revela mais as fraquezas. Podemos vê-lo forte e tentando fazer o correcto, enfrentando os desfios que lhe são impostos mas, em determinadas ocasiões, perdido e temeroso.
Apesar de tudo, gostei do livro e continuo a aguardar a segunda parte (que será editada em Janeiro) pois fiquei com a sensação de que o melhor está para vir. Se houver grandes revelações (mais... houve duas neste livro das quais não posso falar sem fazer grandes spoilers)iremos encontrá-las no próximo volume. Há ainda muitas peças à espera de serem movimentadas neste tabuleiro.
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